Cultura, terreno de combate

Filipe Diniz

Em 2011 o Na­ti­onal En­dow­ment for De­mo­cracy (NED) or­ga­ni­zação criada por Re­agan que, se­gundo quem sabe, «faz às claras o que a CIA andou dé­cadas a fazer às es­con­didas», fi­nan­ciou 11 bandas rock ve­ne­zu­e­lanas no sen­tido de ela­bo­rarem can­ções para «pro­mover a de­mo­cracia». Tra­tava-se de mais uma peça na en­gre­nagem da cons­pi­ração anti-bo­li­va­riana.

Outra or­ga­ni­zação com idên­ticos per­ga­mi­nhos, a USAid, fi­nan­ciou grupos hip-hop cu­banos. Tra­tava-se de uti­lizar rap­pers cu­banos para «romper o blo­queio in­for­ma­ci­onal» e «cons­truir uma rede de jo­vens vi­sando a “mu­dança so­cial” que de­sen­ca­de­asse um mo­vi­mento ju­venil contra o go­verno». A ope­ração passou pela Cre­a­tive As­so­ci­ates In­ter­na­ti­onal, um su­bem­prei­teiro de Washington para ac­ções deste tipo, que pagou mi­lhões para a tentar pôr em marcha.

A 8 de Maio, o fi­lan­tró­pico cantor Bono da banda rock U2 (cuja acção «hu­ma­ni­tária» di­ri­gida a África é fi­nan­ciada por ou­tros fi­lan­tropos como Bill Gates e Ge­orge Soros) e o gui­tar­rista The Edge ac­tu­aram «pela li­ber­dade» numa es­tação do metro de Kiev, a con­vite de Ze­lensky.

A Ucrânia venceu o fes­tival Eu­ro­visão de 2022. A vo­tação foi no­tável: en­quanto de­correu in­ter­pares, por assim dizer, a canção bri­tâ­nica ia à frente. Mas a nada trans­pa­rente vo­tação do «pú­blico» (Eu­ropa, in­cluindo por ra­zões evi­dentes Is­rael, mais Aus­trália, sabe-se lá porquê) ca­ta­pultou os ucra­ni­anos para o pri­meiro lugar. A Ucrânia ven­cera já em 2004 e em 2016 (talvez então por sim­patia com o golpe fas­cista da Praça Maidan).

Ha­verá algum sen­tido comum entre estes di­fe­rentes acon­te­ci­mentos? Pode bem sus­peitar-se que sim. A cul­tura me­diá­tica de massas é há muito alvo pri­vi­le­giado de ma­ni­pu­lação e ins­tru­men­ta­li­zação, so­bre­tudo por parte dos grandes polos im­pe­ri­a­listas. Em al­guns casos, como atrac­tiva cor­tina de fumo que en­cobre a pior de­su­ma­ni­dade.




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