Protestos populares no Paquistão contra novo governo «importado»
No Paquistão, realizaram-se no domingo, 10, grandes manifestações populares em diversas cidades do país, incluindo Islamabad, a capital, com milhares de pessoas nas ruas a expressar apoio ao deposto primeiro-ministro Imran Khan.
Culminando meses de tensão, Khan foi afastado na véspera pelo parlamento, que aprovou uma moção de não-confiança, considerada pelo ex-chefe do governo como uma «operação de mudança de regime» apoiada pelos EUA.
«Nunca na nossa história se formaram multidões tão espontâneas e em tão grande número, rejeitando o governo importado e dirigido por bandidos», escreveu Khan numa rede social, partilhando imagens dos protestos populares.
As manifestações foram enquadradas pelo PTI (Pakistan Tehreek-e-Insaf, Movimento para a Justiça do Paquistão), o partido de Khan, que convocou os seus membros e apoiantes para manifestar-se nas ruas em todo o país.
Os protestos ocorreram nas principais cidades paquistanesas – Islamabad, Lahore, Sialkot, Sahiwal, Karachi e Rawalpindi, entre outras. Os manifestantes gritaram consignas, desfraldaram bandeiras do PTI e exibiram cartazes e tarjas com frases de apoio a Imran Khan.
O primeiro-ministro deposto reiterou as acusações contra os EUA, culpando Washington pela sua deposição e classificando-a como o resultado de uma «operação de mudança de regime para colocar no poder um círculo de bandidos». Afirmou que o Paquistão entrou num período de «luta pela liberdade», com o povo a defender «a soberania e a democracia» contra uma «conspiração estrangeira».
Após a destituição de Khan, a Assembleia Nacional paquistanesa elegeu o novo primeiro-ministro, Shehbaz Sharif, presidente da Liga Muçulmana do Paquistão (Nawaz), partido de direita, que obteve o apoio de 174 dos 342 deputados, numa eleição boicotada pelos parlamentares do PTI, que decidiram também renunciar aos seus mandatos no parlamento.
Ingerência estrangeira
A crise política no Paquistão agravou-se quando Imran Khan, fundador do PTI, perdeu a maioria parlamentar, após dois partidos aliados terem abandonado a coligação que apoiava o governo. Carismático, o ex-capitão da selecção nacional de críquete campeã do mundo em 1992 tinha sido eleito primeiro-ministro em 2018.
Desde há meses que Khan acusava a oposição, meios de informação e diplomatas estrangeiros, nomeadamente dos EUA, de se aliarem e multiplicarem os esforços para deslegitimar, desestabilizar e derrubar o seu governo.
Os ataques incidiam, sobretudo, na área da política externa paquistanesa. Não agradavam a Washington, conluiada à oposição interna, os esforços de Islamabad apoiando o fim da guerra no Afeganistão, a saída das forças da NATO desse país e a recusa de aceitar bases militares estrangeiras no Paquistão. Opunham-se a que o governo cultivasse e promovesse relações amigáveis com os países vizinhos, particularmente com a China e a Rússia. E não gostaram que o primeiro-ministro paquistanês tivesse visitado Moscovo, poucos dias depois do começo da intervenção militar russa na Ucrânia.
As tensões aumentaram com as frequentes reuniões entre diplomatas dos EUA e dirigentes oposicionistas paquistaneses e com a intensificação da campanha na imprensa, nos meios electrónicos de informação e nas redes sociais atacando o governo e «prevendo» a sua queda a breve prazo – o que veio a acontecer.