Veteranos da guerra de classe
O padrão camuflado dissipa quaisquer dúvidas que houvesse: estes homens estão em guerra. Mas não se trata de uma guerra convencional, denunciam os capacetes amarelos munidos de lanterna. Os milhares que se concentraram, na semana passada, no Parque Estadual Tannehill Ironworks, no Alabama, são na verdade mineiros. Estão em greve há um ano. Vestem uniformes militares porque, segundo o sindicato, «são soldados numa guerra de classes».
Desde Abril de 2021 que estes mineiros não arrancam carvão às profundezas da terra. Exigem o cumprimento das promessas feitas pelos patrões, a Warrior Met Coal, de repor as conquistas retiradas «temporariamente» em 2016, quando a empresa ameaçava falir. Seis anos depois, a empresa assume-se eufórica com o regresso de «lucros históricos» perspectivados pela guerra na Ucrânia e pelas sanções contra a Rússia. O único regresso que a guerra e as sanções não permitem perspectivar é o dos salários, dos benefícios de saúde e dos direitos conquistados. A Warrior Met, que pertence a um grande grupo económico, a BlackRock, alega (num site feito exclusivamente para explicar porque é que a greve não faz qualquer sentido) que a proposta patronal para o novo contrato de 2022 é significativamente melhor que a de 2021. O que não diz é que, ainda assim, continua significativamente abaixo do contrato que já existia em 2016.
Sob a chuva intensa, durante a manifestação convocada para assinalar o aniversário da greve, o presidente do UMWA, Cecil Roberts, sintetizava a efeméride: «Até os céus chovem por causa da Warrior Met. Mas este é o sindicato da Mother Jones. Este é o sindicato de John L. Lewis. Este é o sindicato dos trabalhadores mais lixados que já viveram nesta terra. Vamos continuar a luta até aque a BlackRock diga à empresa para cumprir o contrato. Exigimos dignidade. Exigirmos respeito. Não vamos deixar que ninguém nos demova!».
Ao longo deste ano, os trabalhadores tiveram de enfrentar a violência da polícia, as ameaças de mercenários e até uma ordem judicial que tornou os piquetes de greve quase impossíveis. Ainda assim, a greve não perdeu tracção e a solidariedade continuou a crescer, como se fez notar nesta manifestação em que marcaram presença milhares de trabalhadores de outros sindicatos e sectores solidários com a luta dos mineiros. Foi essa solidariedade, nas manifestações, nas palavras e no fundo de greve, que permitiu que a paralisação se prolongasse muito para além do que os salários dos mineiros ou a sua capacidade de comunicação poderiam suportar.
Numa das muitas declarações em nome de outros sindicatos que concretizaram esse apoio, Sara Nelson, presidente da Associação dos Assistentes de Bordo, justificou a solidariedade: «Não importa se estás a 2000 pés debaixo de terra ou a 35 mil pés de altitude. Somos todos trabalhadores. Estamos todos a respirar ar reciclado e não estamos seguros sem um sindicato».