Militarismo e sanções são gasolina na fogueira
EUA, NATO e União Europeia reúnem-se por estes dias em Bruxelas para avançar ainda mais no militarismo, prolongar o conflito na Ucrânia e reforçar as medidas coercivas contra a Rússia.
Washington e aliados vão impor mais sanções económicas à Rússia
O presidente norte-americano, Joe Biden, discutiu no início desta semana com vários líderes europeus o fornecimento de armamento aos ucranianos. A Casa Branca informou que a conversa à distância envolveu o presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Washington, Paris, Berlim, Roma e Londres concordaram em «continuar a trabalhar para isolar» Moscovo no cenário internacional e discutiram sanções económicas adicionais à Rússia e, também, à Bielorrússia.
Biden viajou esta semana para Bruxelas onde vai participar em cimeiras da NATO, da União Europeia e do G7, esta última convocada pela Alemanha. O chefe do Estado norte-americano desloca-se igualmente à Polónia.
O presidente norte-americano deverá anunciar na Europa mais sanções à Rússia e sublinhar os esforços para fazer cumprir as anteriormente decididas, nomeadamente por outros países.
Já os líderes da UE vão aprovar no Conselho Europeu que se realiza em Bruxelas hoje, quinta-feira, 24, e amanhã, a criação de um «fundo de solidariedade» com a Ucrânia e preparam-se para «avançar rapidamente» com novas sanções à Rússia e à Bielorrússia.
Entretanto, no final da semana passada, Joe Biden e Xi Jinping conversaram, por videoconferência, sobre o conflito na Ucrânia. O chefe de Estado chinês reafirmou o esforço do seu país em contribuir para a paz, mas rejeitou que as sanções sejam o melhor caminho para a alcançar: «sanções abrangentes e indiscriminadas só fariam as pessoas sofrer», lê-se no comunicado emitido pelas autoridades chinesas. «Quanto mais complexa a situação, maior a necessidade de manter a cabeça fria e a razão», acrescenta.
Laboratórios biológicos dos EUA na Ucrânia
O vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros russo, Serguéi Riabkov, avisou que o seu país não pode tolerar que os EUA estabeleçam laboratórios na Ucrânia na perspectiva de desenvolver componentes de armas biológicas.
Afirmou que os programas militares e biológicos norte-americanos levados a cabo na Ucrânia são motivo de profunda preocupação e constituem violações da Convenção sobre a proibição das armas biológicas.
Destacou que Moscovo não compreende por que razão Washington atrasa sem motivos o processo de destruição das suas armas químicas e ainda não se desfez delas, apesar de dispor de todos os recursos tecnológicos, financeiros e de outro tipo para o fazer. «Os EUA, diferentemente da Rússia, ainda não destruíram as suas reservas de armas químicas. Diz-se que na Europa não há tais armas mas nos EUA continuam a existir e o ritmo da sua destruição é extremamente lento», assinalou.
As provas agora encontradas em laboratórios biológicos militares na Ucrânia, financiados pelos EUA, confirmaram a veracidade das denúncias do Kremlin sobre o perigo que estes constituem para a Rússia.
Na semana passada, o Ministério da Defesa russo declarou que dispõe de provas sobre a existência de uma rede de mais de 30 laboratórios biológicos ao serviço do Departamento de Defesa norte-americano.
O chefe das Forças de Defesa de Radiação Química e Biológica das forças armadas, Ígor Kirílov, informou que a 24 de Fevereiro, com o início da «operação militar especial» russa, esses centros receberam uma ordem do Ministério da Saúde da Ucrânia para destruir completamente os bio-agentes nos laboratórios. Explicou que o material necessário para continuar com o programa biológico militar foi retirado de território ucraniano antes da eliminação das provas. E revelou que entre as prioridades destes laboratórios estava a monitorização da situação biológica nas presumíveis áreas de instalação de contingentes militares dos Estados membros da NATO.
A natureza do poder na Ucrânia
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou no dia 20 a «suspensão» de 11 forças políticas. Entre eles, conta-se a segunda maior do país em termos de representação parlamentar, a Plataforma de Oposição – Pela Vida, e também a União das Forças de Esquerda, o Partido Socialista Progressista, o Partido Socialista ou o grupo Socialistas.
O pretexto anunciado foi o alegado carácter «pró-russo» destas formações, que a realidade não confirma: entre elas, há as que condenaram a acção militar russa iniciada a 24 de Fevereiro e, até, as que organizaram brigadas para a defesa do país. As verdadeiras razões serão, pois, de outra ordem, sabendo-se que entre os partidos agora proibidos há quem seja contra a NATO, proponha medidas económicas de esquerda e defenda um efectivo combate à corrupção – uma das principais promessas eleitorais de Zelensky, rapidamente esquecida.
Também não é sério pretender-se relacionar esta proibição com a situação de guerra em que o país se encontra: ao abrigo da chamada lei de descomunização, assumida após o golpe de Estado de Fevereiro de 2014 (apoiado pelos EUA, NATO e UE), o Partido Comunista da Ucrânia foi alvo de um processo de ilegalização e ficou impedido de concorrer a eleições e de afirmar os seus símbolos.
Os comunistas foram, uma vez mais, os primeiros alvos de uma ofensiva antidemocrática de âmbito muito mais vasto. A guerra foi o pretexto perfeito para a intensificar. Consumada esta proibição, só as forças de direita e extrema-direita, fascistas e neonazis, se mantêm legalizadas na Ucrânia.
A influência decisiva que as forças xenófobas, fascizantes e neonazis assumem hoje na Ucrânia são muito anteriores à actual escalada do conflito. Apoiadas por sectores do grande capital ucraniano e pelo imperialismo, foram determinantes para a consumação do golpe de 2014 e são, desde então, determinantes nas instituições e na definição da política do país. Logo em Abril desse ano iniciou-se a integração das formações neonazis na Guarda Nacional da Ucrânia.
Também no plano simbólico fica evidente o carácter fascizante do poder ucraniano: já este mês, Zelensky agraciou com o título de Herói da Ucrânia o chefe do Batalhão Azov, Denis Prokopenko. Em Junho do ano passado, o Parlamento (no qual o partido do presidente tem maioria absoluta) rejeitou um projecto de lei que pretendia impedir a legalização do nazismo. Já a lei de descomunização foi confirmada.
Com Zelensky manteve-se igualmente a glorificação de Stepan Bandera (1909-1959), líder da Organização dos Nacionalistas Ucranianos, um dos pilares do Exército Insurgente Ucraniano que durante a ocupação nazi-fascista da União Soviética colaborou no extermínio do povo soviético, incluindo de ucranianos, mas também de dezenas de milhares de polacos.