Vistos Gold e uma resolução que não lhes põe termo
O Parlamento Europeu aprovou no início de Março uma resolução sobre os regimes de cidadania pelo investimento (vulgo passaportes dourados, atribuídos em Malta, Chipre e Bulgária) e de residência para actividade de investimento (vulgos vistos gold, atribuídos em 12 países da UE, entre os quais Portugal).
Partindo de uma afirmação simplista, a de que a resolução visava o fim dos vistos gold, e ignorando o restante conteúdo da resolução (algo recorrente nos dias que correm), procurou atacar-se o PCP pelo voto contra dos seus deputados no Parlamento Europeu. Sucede que a resolução demonstra permeabilidade a estes regimes, desde que sejam previstas «abordagens legislativas e políticas específicas a nível da União [Europeia]».
Reconhece que as matérias de cidadania e de residência são uma competência dos Estados-membros, mas congratula ou sugere a abertura de processos de infracção, pela Comissão Europeia, contra Estados. Insta à criação de um «mecanismo de ajustamento», através do qual se impõe aos Estados o pagamento à UE de uma percentagem significativa dos «investimentos efectuados (…) no âmbito de regimes de cidadania pelo investimento/residência para atividade de investimento», e pede um «acto que preveja regras a nível da União aplicáveis» a este tipo de investimento, «a fim de reforçar o seu valor acrescentado para a economia real e de criar ligações com as prioridades para a recuperação económica da União».
E, até 2024, «uma proposta de regulamento, que poderá ser complementada por outras medidas legislativas», para dar resposta às especificidades e à existência generalizada de regimes de residência para atividade de investimento em todos os Estados-membros», que assegure a «harmonização» na UE e supervisão por esta, garantindo, dizem, «transparência e governação».
Ou seja, pedindo o fim dos passaportes dourados, ainda que empurrando com a barriga e usurpando competências e recursos dos orçamentos nacionais para a UE, abre para a normalização dos chamados vistos gold, como se fossem estes regimes mais legítimos desde que sob a alçada supranacional.
Nada impediu, até agora, que várias das recomendações contidas neste e noutros relatórios fossem adoptadas no plano nacional. O que torna mais notável que forças políticas que a votaram favoravelmente, no plano nacional se recusem a tomar as medidas necessárias para pôr termo a este regime, seja na Assembleia da República, seja no Governo.
Nas circunstâncias actuais, Portugal seria um dos países que mais teria de pagar à UE. O povo português pagaria duplamente: quer com os efeitos nefastos destes regimes, como a especulação imobiliária que alimenta, como ainda teria de pagar à UE, de castigo, uma penalização por um regime de vistos que visa facilitar lucros aos capitalistas estrangeiros que dele beneficiam.