Uma grande jornada pela paz

Ângelo Alves (Membro da Comissão Política)

O PCP re­a­lizou no pas­sado dia 6 de Março uma gran­diosa ini­ci­a­tiva, plena de con­fi­ança, de­ter­mi­nação e con­vicção. Mas não só. Em tempos som­brios de guerra, o Co­mício do PCP do Campo Pe­queno foi uma im­pres­si­o­nante de­mons­tração de es­pe­rança e con­fi­ança no fu­turo e a maior ini­ci­a­tiva re­a­li­zada em Por­tugal em de­fesa da paz.

É ur­gente o de­sa­nu­vi­a­mento e re­mover os obs­tá­culos à paz

Foram mi­lhares e mi­lhares os mi­li­tantes do PCP e ou­tros de­mo­cratas que en­cheram por com­pleto o Campo Pe­queno num co­mício que, mar­cando o en­cer­ra­mento das co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário do Par­tido, foi muito para lá desses, já por si, im­por­tan­tís­simos acon­te­ci­mentos.

Com uma im­pres­si­o­nante e en­tu­siás­tica par­ti­ci­pação da ju­ven­tude, o co­mício cons­ti­tuiu um ele­mento mar­cante na vida do Par­tido e também na vida na­ci­onal. Afirmou-se como uma gran­diosa ini­ci­a­tiva de luta pela re­so­lução dos pro­blemas na­ci­o­nais, pela me­lhoria das con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo, contra a ex­plo­ração e o em­po­bre­ci­mento, pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, por uma po­lí­tica al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda, e pela afir­mação do ideal e pro­jecto co­mu­nistas.

Pelo nosso co­mício pas­saram as muitas lutas em de­fesa dos tra­ba­lha­dores e do povo. Desde os di­reitos da cri­anças e pais, e da ju­ven­tude, até aos in­te­resses de quem tra­balha, pas­sando pela de­fesa do di­reito à saúde, à edu­cação, à cul­tura, entre tantas ou­tras coisas, o co­mício do PCP foi um mo­mento de afir­mação da força e per­sis­tência na luta de todos os dias, sempre apon­tada ao fu­turo.

Mas foi mais do que isso. As in­ter­ven­ções po­lí­ticas e cul­tu­rais – de enorme qua­li­dade, su­blinhe-se – foram cons­tan­te­mente pon­tu­adas com pa­la­vras de ordem, com des­taque para: «Paz sim Guerra não». Re­a­li­zado num mo­mento som­brio, de guerra e ins­ti­gação de vá­rios ódios, o nosso co­mício foi a maior jor­nada de luta pela paz re­a­li­zada no nosso País no ac­tual con­texto. Nem podia ser de outra forma. Os co­mu­nistas por­tu­gueses foram e são os mais con­se­quentes de­fen­sores da paz, da ami­zade e co­o­pe­ração entre os povos.

De­fender a paz im­plica co­e­rência, co­ragem e per­sis­tência. Não é de agora o apego do nosso Par­tido à paz. Essa é uma po­sição de classe que in­tegra a nossa iden­ti­dade co­mu­nista. São os tra­ba­lha­dores as prin­ci­pais ví­timas da guerra, é a eles que in­te­ressa em pri­meiro lugar a de­fesa da paz.

Co­e­rência, co­ragem, per­sis­tência

Como afir­mámos no nosso Co­mício esta guerra nunca devia ter co­me­çado. Mas ela é agora uma dura re­a­li­dade e a obri­gação da­queles que de­fendem ver­da­dei­ra­mente a Paz não é regar a fo­gueira com ga­so­lina, fo­men­tando cor­ridas ar­ma­men­tistas, in­jec­tando ar­ma­mento no te­atro de guerra, ou ali­men­tando ódios que podem deixar marcas de dé­cadas.

Para parar a guerra é ne­ces­sário iden­ti­ficar e com­pre­ender o ca­minho que a ela levou. É isso que o PCP faz. A es­ca­lada que levou a esta dra­má­tica si­tu­ação, e que con­tinua a ser ali­men­tada, tem de ser in­ver­tida. Não é a mul­ti­pli­cação de ac­ções vi­o­lentas (mi­li­tares, po­lí­ticas, eco­nó­micas, cul­tu­rais, entre ou­tras) que pode parar esta guerra. Pelo con­trário são exac­ta­mente esses ele­mentos que estão na sua origem.

Aquilo que o PCP afirmou no seu co­mício é que é ur­gente o de­sa­nu­vi­a­mento, é im­pe­rioso re­mover, no plano po­lí­tico, os obs­tá­culos à paz. Isso não é com­pa­tível com vi­sões bá­sicas de trin­cheira, pa­radas na His­tória e que negam re­a­li­dades evi­dentes à luz da ac­tual ge­o­po­lí­tica. Quando o PCP iden­ti­fica na es­ca­lada dos EUA, na ex­pansão da NATO a 14 países do Leste Eu­ropeu e no golpe de Es­tado de 2014 que levou a eclosão da guerra na Ucrânia, al­gumas das prin­ci­pais causas deste con­flito, não se está a po­si­ci­onar do lado do go­verno russo. Está a iden­ti­ficar o ca­minho que tem de ser per­cor­rido em sen­tido con­trário para se al­cançar a paz. E é isso que al­guns não to­leram ao PCP, que tenha uma visão in­de­pen­dente do ponto de vista de classe face à guerra.

A pre­o­cu­pação da­queles que apro­veitam a guerra para fazer guerra ao PCP, não é com a Paz e com a ne­ces­si­dade de de­fen­dermos o fim desta guerra. Eles sabem que o PCP não tem nada que ver com Putin. O que não to­leram ver­da­dei­ra­mente é que o PCP não se sub­meta ao dis­curso ofi­cial e be­li­cista do re­gime ucra­niano, da ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana, da NATO e da União Eu­ro­peia. Es­tamos do lado dos povos, do lado da paz, e foi isso que a uma só voz gri­támos no do­mingo pas­sado.




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