- Nº 2519 (2022/03/10)

Uma grande jornada pela paz

Opinião

O PCP realizou no passado dia 6 de Março uma grandiosa iniciativa, plena de confiança, determinação e convicção. Mas não só. Em tempos sombrios de guerra, o Comício do PCP do Campo Pequeno foi uma impressionante demonstração de esperança e confiança no futuro e a maior iniciativa realizada em Portugal em defesa da paz.

Foram milhares e milhares os militantes do PCP e outros democratas que encheram por completo o Campo Pequeno num comício que, marcando o encerramento das comemorações do centenário do Partido, foi muito para lá desses, já por si, importantíssimos acontecimentos.

Com uma impressionante e entusiástica participação da juventude, o comício constituiu um elemento marcante na vida do Partido e também na vida nacional. Afirmou-se como uma grandiosa iniciativa de luta pela resolução dos problemas nacionais, pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo, contra a exploração e o empobrecimento, pela ruptura com a política de direita, por uma política alternativa patriótica e de esquerda, e pela afirmação do ideal e projecto comunistas.

Pelo nosso comício passaram as muitas lutas em defesa dos trabalhadores e do povo. Desde os direitos da crianças e pais, e da juventude, até aos interesses de quem trabalha, passando pela defesa do direito à saúde, à educação, à cultura, entre tantas outras coisas, o comício do PCP foi um momento de afirmação da força e persistência na luta de todos os dias, sempre apontada ao futuro.

Mas foi mais do que isso. As intervenções políticas e culturais – de enorme qualidade, sublinhe-se – foram constantemente pontuadas com palavras de ordem, com destaque para: «Paz sim Guerra não». Realizado num momento sombrio, de guerra e instigação de vários ódios, o nosso comício foi a maior jornada de luta pela paz realizada no nosso País no actual contexto. Nem podia ser de outra forma. Os comunistas portugueses foram e são os mais consequentes defensores da paz, da amizade e cooperação entre os povos.

Defender a paz implica coerência, coragem e persistência. Não é de agora o apego do nosso Partido à paz. Essa é uma posição de classe que integra a nossa identidade comunista. São os trabalhadores as principais vítimas da guerra, é a eles que interessa em primeiro lugar a defesa da paz.

Coerência, coragem, persistência

Como afirmámos no nosso Comício esta guerra nunca devia ter começado. Mas ela é agora uma dura realidade e a obrigação daqueles que defendem verdadeiramente a Paz não é regar a fogueira com gasolina, fomentando corridas armamentistas, injectando armamento no teatro de guerra, ou alimentando ódios que podem deixar marcas de décadas.

Para parar a guerra é necessário identificar e compreender o caminho que a ela levou. É isso que o PCP faz. A escalada que levou a esta dramática situação, e que continua a ser alimentada, tem de ser invertida. Não é a multiplicação de acções violentas (militares, políticas, económicas, culturais, entre outras) que pode parar esta guerra. Pelo contrário são exactamente esses elementos que estão na sua origem.

Aquilo que o PCP afirmou no seu comício é que é urgente o desanuviamento, é imperioso remover, no plano político, os obstáculos à paz. Isso não é compatível com visões básicas de trincheira, paradas na História e que negam realidades evidentes à luz da actual geopolítica. Quando o PCP identifica na escalada dos EUA, na expansão da NATO a 14 países do Leste Europeu e no golpe de Estado de 2014 que levou a eclosão da guerra na Ucrânia, algumas das principais causas deste conflito, não se está a posicionar do lado do governo russo. Está a identificar o caminho que tem de ser percorrido em sentido contrário para se alcançar a paz. E é isso que alguns não toleram ao PCP, que tenha uma visão independente do ponto de vista de classe face à guerra.

A preocupação daqueles que aproveitam a guerra para fazer guerra ao PCP, não é com a Paz e com a necessidade de defendermos o fim desta guerra. Eles sabem que o PCP não tem nada que ver com Putin. O que não toleram verdadeiramente é que o PCP não se submeta ao discurso oficial e belicista do regime ucraniano, da administração norte-americana, da NATO e da União Europeia. Estamos do lado dos povos, do lado da paz, e foi isso que a uma só voz gritámos no domingo passado.


Ângelo Alves