A arruaça mediática

Jorge Cordeiro

Se dúvida houvesse, os últimos dias dissiparam-na. A hegemonização imperialista tem no controlo da informação e do espaço mediático não só prolongamento como arma decisiva. Um poder de submersão da opinião e vontade própria a partir de colossais meios de manipulação. Em minutos o que é produzido pelos centros de dominação norte-americanapropaga-se como a verdade única e inquestionável à escala planetária. A estratégia de condicionamento ideológico é imensa. Pelos recursos ilimitados a que recorre e, sobretudo, pelos métodos sem escrúpulosem que se sustenta. Só ganha estatuto de verdade, existe o que se insere na corrente de intoxicação de consciências. Factos, acontecimentos ou situações que preenchem, agora, à náusea os ecrãs, aí estiveram, em muitos casos mais dramáticos e revoltantes, ao longo de décadas e de guerras, silenciados por quem promovendo conflitos e agressões controlava as fontes de informação. Aí está instituído pelos centros de dominação ideológica o recurso à manipulação das imagens, as noticias falsas, o silenciamento de elementos de informação que permitam um juízo independente, a exclusão do contraditório ou a sua admissão desde que sentado no banco dos réus e sujeito a inquisitorial inquirição «jornalística».Aí vemos, à solta, a informação subordinada à propaganda de guerra, ampliada pelaturba dos que engrossam a corrente da arruaça mediática. Os mesmos títulos, as mesmas imagens, os mesmos comentários, as mesmas mentiras, a mesma e assumida censura a partir de quem tem o dever de informar. A noticia substituída pela propaganda, o pluralismo sucumbido à unilateralidade dos centros dedominação, aexacerbação aterrorizante de cenários que legitimem novas escaladas belicistas. Em suma, a tão idolatrada liberdade de imprensa aprisionada na teia tentacular dos promotores da guerra, em que ainda há, entre jornalistas, quem lhe resista.

Não se olhe com indiferença para a desbragada intolerância e difusão de ódio fascizante, a criminalização de quem questione a ditadura do pensamento único, a promoção do anticomunismo. Por detrás delas germina um caldo de cultura anti-democrático e persecutório que visa legitimar, como alguns já ousam verbalizar, a limitação de liberdades e direitos. A força da organização, coerência e coragem acabará por vencer.




Mais artigos de: Opinião

Uma grande jornada pela paz

O PCP realizou no passado dia 6 de Março uma grandiosa iniciativa, plena de confiança, determinação e convicção. Mas não só. Em tempos sombrios de guerra, o Comício do PCP do Campo Pequeno foi uma impressionante demonstração de esperança e confiança no futuro e a maior iniciativa realizada em Portugal em defesa da paz.

«Guerra híbrida»

«Guerra híbrida» é a nova designação da dinâmica complexa e flexível de um conflito que inclui operações militares, convencionais e irregulares, ciberguerra, espionagem, subversão, desinformação, chantagem política e económica, como na Ucrânia, com a preparação e execução do golpe de Estado de 2014, apoiado e organizado...

«Um novo Macartismo»

O pensamento reaccionário engendrou esforçadamente o conceito de «totalitarismo». Pode ser que alguns se deem conta de onde encaixa a carapuça que formularam. Veja-se o que se passa no campo da cultura nas sanções contra a Rússia. Até o insuspeito Washington Post o diz: «um novo macartismo ameaça a América: o...

Arthur, Jean e a paz

Arthur Ponsonby (1871-1946) foi um aristocrata inglês com um percurso peculiar. Nascido no próprio castelo de Windsor, estudou em Eton e Oxford e seguiu a carreira diplomática. Até aqui tudo normal, não fosse ter-se oposto firmemente à entrada da Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial e juntado ao Partido Trabalhista...

Travar a catástrofe

Os governos e comunicação social que justificaram, apoiaram e promoveram todas as guerras do último quarto de século manifestam agora indignação perante a guerra na Ucrânia. A guerra é algo terrível, em primeiro lugar para os povos que as sofrem. É inteiramente verdade hoje na Ucrânia. Mas também o foi e é nas guerras...