- Nº 2519 (2022/03/10)

A arruaça mediática

Opinião

Se dúvida houvesse, os últimos dias dissiparam-na. A hegemonização imperialista tem no controlo da informação e do espaço mediático não só prolongamento como arma decisiva. Um poder de submersão da opinião e vontade própria a partir de colossais meios de manipulação. Em minutos o que é produzido pelos centros de dominação norte-americanapropaga-se como a verdade única e inquestionável à escala planetária. A estratégia de condicionamento ideológico é imensa. Pelos recursos ilimitados a que recorre e, sobretudo, pelos métodos sem escrúpulosem que se sustenta. Só ganha estatuto de verdade, existe o que se insere na corrente de intoxicação de consciências. Factos, acontecimentos ou situações que preenchem, agora, à náusea os ecrãs, aí estiveram, em muitos casos mais dramáticos e revoltantes, ao longo de décadas e de guerras, silenciados por quem promovendo conflitos e agressões controlava as fontes de informação. Aí está instituído pelos centros de dominação ideológica o recurso à manipulação das imagens, as noticias falsas, o silenciamento de elementos de informação que permitam um juízo independente, a exclusão do contraditório ou a sua admissão desde que sentado no banco dos réus e sujeito a inquisitorial inquirição «jornalística».Aí vemos, à solta, a informação subordinada à propaganda de guerra, ampliada pelaturba dos que engrossam a corrente da arruaça mediática. Os mesmos títulos, as mesmas imagens, os mesmos comentários, as mesmas mentiras, a mesma e assumida censura a partir de quem tem o dever de informar. A noticia substituída pela propaganda, o pluralismo sucumbido à unilateralidade dos centros dedominação, aexacerbação aterrorizante de cenários que legitimem novas escaladas belicistas. Em suma, a tão idolatrada liberdade de imprensa aprisionada na teia tentacular dos promotores da guerra, em que ainda há, entre jornalistas, quem lhe resista.

Não se olhe com indiferença para a desbragada intolerância e difusão de ódio fascizante, a criminalização de quem questione a ditadura do pensamento único, a promoção do anticomunismo. Por detrás delas germina um caldo de cultura anti-democrático e persecutório que visa legitimar, como alguns já ousam verbalizar, a limitação de liberdades e direitos. A força da organização, coerência e coragem acabará por vencer.


Jorge Cordeiro