Fascismo nunca mais!
«Aos que na longa noite do fascismo foram portadores da liberdade e pela liberdade morreram no Campo de Concentração do Tarrafal!», lê-se no mausoléu erguido no Alto de S. João, em Lisboa, onde se encontram os restos mortais (transladados em 1978) dos 32 tarrafalistas assassinados pelo fascismo no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. No dia 19 de Fevereiro, a União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), com o apoio logístico da União dos Sindicatos de Lisboa e da Sociedade de Instrução e Beneficência «A Voz do Operário», voltou a prestar homenagem àqueles antifascistas que perderam a vida no Tarrafal.
O momento ficou marcado por um momento cultural preenchido com a música de Rubem Martins, que cantou à viola «Menina dos olhos tristes», de José Afonso, «Erguem-se muros», de Adriano Correia de Oliveira, e «Cantiga para quem sonha», de Luis Goes. A poesia esteve a cargo da actriz Lucinda Loureiro, que declamou «Abandono», de David Mourão Ferreira, «Regresso», de Amílcar Cabral, e «Aos mortos vivos do Tarrafal», de Ary dos Santos.
Este ano o orador principal foi o sindicalista Manuel Candeias, ex-preso político e do Conselho Nacional da URAP. Na sua intervenção, recordou o cortejo de 200 mil pessoas que acompanhou a transladação dos mortos do Tarrafal até ao cemitério em 1978, afirmando que «tal como nesse dia, temos também hoje o dever de memória para com estes revolucionários».
Nuno Figueira, do Conselho Directivo da URAP, salientou que «a preservação da memória é tão mais urgente quando assistimos a tentativas de branqueamento», que se observam com «o aparecimento de partidos com ideologias de extrema-direita».
Exposição anticomunista em Braga
Em nota divulgada na segunda-feira, 28, a URAP exprimiu o seu «mais vivo protesto» contra uma exposição «de perfil anticomunista e assente na falsificação histórica», patente no átrio do Hospital de Braga (HB).
Pelo facto, os antifascistas exigem «não só a retirada imediata de tão funesta exposição», como «responsabiliza» a Administração do HB por a ter autorizado «de forma leviana e perigosa». Questionam ainda as demais entidades responsáveis, designadamente a Administração Regional de Saúde do Norte, a Administração Central de Saúde, o Ministério da Saúde e o primeiro-ministro, «se é possível tolerar e deixar passar, sem as devidas consequências, uma tão grave ofensa à Constituição da República Portuguesa, que, implicitamente, rejeita acções de difusão e propaganda de ideias fascistas».
Por fim, a URAP alerta os bracarenses e todos os profissionais que trabalham no HB, bem como os que o visitam, «para não se deixarem enganar por esta perigosa manipulação de consciências», sendo que «o anticomunismo foi e é um elemento central dos fascismos, às claras ou encapotados».