Mensageiros da guerra

Luís Carapinha

O imperialismo não abre mão do regime fantoche de Kiev

Pela voz de Biden e Blinken, os EUA continuam a açular o fantasma de uma «invasão russa». A cada anúncio falhado, uma nova data sobrevém, arremessada para o campo minado da desinformação. No fim-de-semana, a conferência anual de Munique sobre segurança converteu-se numa mostra de histeria colectiva e ódio anti-Rússia.

Washington, a NATO e a UE rejeitam em absoluto reverter a escalada para Leste que, cinicamente, afirmam não ameaçar a Federação Russa, agitando o sabre da pressão militar e a ameaça de novas sanções. Recusando-se a atender as propostas de segurança russas, o imperialismo não abre mão da utilização do regime-fantoche instalado em Kiev com o golpe sangrento de 2014 para ir ainda mais longe na política de confrontação contra a Rússia, espezinhando no caminho a soberania e a independência da Ucrânia e os direitos do povo trabalhador da antiga segunda república soviética.

Em Moscovo cresceu a percepção de que a situação se tornou intolerável. No encontro com o presidente bielorrusso, dia 18, Pútin admitiu que «[novas] sanções serão impostas de qualquer forma» para «travar o desenvolvimento» da Rússia e da Bielorrússia, exigindo o fortalecimento da «soberania económica».

Não restam dúvidas de que o mundo se encontra no limiar de desenvolvimentos de alcance profundo. A NATO declara a Rússia como principal ameaça directa, mas a classe dirigente dos EUA vê na China a grande ameaça existencial à sua hegemonia em declínio. O tempo urge e tudo indica que, na fase actual da nova «guerra fria» proclamada, a estratégia de tensão do imperialismo identifica na Rússia o elo mais fraco. Os estrategas da Casa Branca apostam na política de máxima pressão, contando exponenciar as divisões na elite russa.

É este o contexto geral em que a Rússia anunciou o reconhecimento das repúblicas de Donetsk e Lugansk, perante a realidade que se arrasta no terreno, há quase oito anos, de incumprimento declarado pelo governo de Kiev dos acordos de Minsk para uma solução política do conflito no Donbass. A proclamação das duas repúblicas, na Primavera de 2014, constitui um acto genuíno das populações perante a ameaça fascista. A resposta do regime usurpador ucraniano é conhecida: reescrita da história de acordo com o guião do colaboracionismo nazi, negação dos direitos linguísticos da população russófona, repressão política e social, bloqueio económico. E a guerra que prossegue nos últimos anos em estado latente.

O agravamento da crise do capitalismo traz com força para a cena internacional o velho tabuleiro de xadrez do expansionismo e disputas de potência. Ao receber esta semana o seu homólogo do Azerbaijão, Pútin negou que tenha a intenção de restabelecer o Império Russo. O anticomunismo e o engodo anti-soviético não servirão para aplacar a hostilidade do imperialismo, nem o apelo nacionalista poderá favorecer o verdadeiro patriotismo e fortalecer a defesa dos interesses nacionais.

Os ataques do Kremlin a Lénine e aos bolcheviques são, na realidade, um tiro no pé. A velha Rússia, verdugo dos povos, não é reabilitável. Como escreveu o historiador britânico Carr, «quando os bolcheviques tomaram o poder, o vasto Império Russo – encerrando perto de 200 povos, etnias e línguas – encontrava-se num processo acelerado de desintegração, resultante da turbulência interna e da derrota na guerra».




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