Uma luta a enfrentar
As crianças, os adolescentes e os jovens têm sofrido de forma particular com as consequências da epidemia de COVID-19, bem como com os sucessivos confinamentos e isolamentos.
Uma das dimensões que importa aprofundar tem a ver com os cuidados de saúde prestados. O encerramento ao público dos cuidados de saúde primários durante muitos meses fez baixar o nível e a qualidade dos cuidados às grávidas, as consultas de saúde infantil, bem como rastreios e programas diversos.
O Público fez uma reportagem sobre as consultas de pedopsiquiatria que pode ser a ponta do icebergue. Os médicos ouvidos referem um aumento da procura das consultas, quer pelos casos que aparecem nas urgências, quer pela referenciação por outras especialidades, o que está a levar ao aumento dos tempos de espera para uma primeira consulta.
Seis meses de espera na consulta de adolescentes e quatro meses para as crianças dos 4 aos 12 anos no Hospital da Estefânia, em Lisboa; três meses e meio no Hospital de S. João, no Porto; um aumento de 40% na procura no Hospital de Beja; mais de oito meses de espera em Braga – são os dados recolhidos pelo Público.
O diagnóstico é comum a todos os serviços que o jornal ouviu: falta de trabalhadores. Médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, são diversas as profissões envolvidas nas equipas multidisciplinares necessárias para responder aos diferentes casos acompanhados, e cuja escassez põe em causa a capacidade de resposta.
Quando se fala de salvar o Serviço Nacional de Saúde também é disto que se fala. Capacitá-lo em meios e trabalhadores, estabelecer e fortalecer equipas, responder às necessidades das populações, que não são imutáveis.
A sair de uma epidemia, com mais e novas necessidades a imporem-se, com a vida e a saúde das crianças a exigirem cuidados especiais, não capacitar o SNS para dar essa resposta teria consequências desastrosas no futuro, no plano individual e colectivo. Há muita luta pela frente, mas forças bastantes no País para a travar.