Propostas de diálogo e desanuviamento

Pedro Guerreiro

EUA, NATO e UE apostam na con­fron­tação e na tensão

Na sequência de uma im­por­tante ini­ci­a­tiva da Rússia, foi anun­ciada a re­a­li­zação nos pró­ximos dias de reu­niões deste país com os EUA e com a NATO, para além de uma reu­nião da Or­ga­ni­zação para a Se­gu­rança e a Co­o­pe­ração na Eu­ropa (OSCE). Du­rante este pe­ríodo, re­a­lizar-se-ão ainda reu­niões da NATO e da UE.

Face ao sério agra­va­mento da si­tu­ação e pe­rigo de es­ca­lada de con­fron­tação em re­sul­tado da acção be­li­cista e pro­vo­ca­tória dos EUA e dos seus ali­ados – in­cluindo a NATO e a UE –, a Rússia apre­sentou aos EUA um con­junto de pro­postas com o ob­jec­tivo de pro­mover o diá­logo e o de­sa­nu­vi­a­mento, par­ti­cu­lar­mente na Eu­ropa.

Re­a­fir­mando prin­cí­pios con­sa­grados na Carta das Na­ções Unidas (1945) e na Acta Final da Con­fe­rência de Hel­sín­quia (1975), assim como com­pro­missos a seu tempo acor­dados entre a URSS e os EUA, estas pro­postas visam pre­venir, entre ou­tros as­pectos: a agressão mi­litar; o con­tínuo alar­ga­mento da NATO ao Leste da Eu­ropa; o es­ta­be­le­ci­mento de bases mi­li­tares dos EUA em países não mem­bros da NATO que te­nham in­te­grado a URSS; a ins­ta­lação de forças e equi­pa­mentos mi­li­tares, o voo de bom­bar­deiros ou a mo­vi­men­tação de na­vios de guerra que re­pre­sentem uma ameaça ao outro país; a ins­ta­lação de mís­seis de curto e médio-al­cance fora do seu ter­ri­tório ou em lo­cais que per­mitam atingir o outro país; ou a ins­ta­lação de armas nu­cle­ares em países ter­ceiros.

A Rússia apre­sentou igual­mente à NATO um con­junto de pro­postas no mesmo sen­tido.

In­de­pen­den­te­mente do seu des­fecho, esta ini­ci­a­tiva da Rússia tem, desde já, o mé­rito de co­locar, mais uma vez, em evi­dência quem é res­pon­sável e está in­te­res­sado na po­lí­tica de agressão e na es­ca­lada de con­fron­tação – os EUA, a NATO, a UE e os seus ali­ados – e quem alerta para os seus pe­rigos e se em­penha na sua pre­venção.

Por isso, as pro­postas apre­sen­tadas pela Rússia têm sido sis­te­ma­ti­ca­mente ocul­tadas e des­vir­tu­adas nos meios de co­mu­ni­cação so­cial que se têm cons­ti­tuído em his­té­ricos arautos da pro­pa­ganda de guerra e con­fron­tação do im­pe­ri­a­lismo. Veja-se como estes ac­ti­va­mente es­condem e querem fazer es­quecer as guerras de agressão dos EUA, da NATO e dos seus ali­ados contra a Ju­gos­lávia, o Afe­ga­nistão, o Iraque, a Líbia ou a Síria; o con­tínuo alar­ga­mento da NATO e a in­cor­po­ração e ins­tru­men­ta­li­zação de ou­tros países – como a Ucrânia – na sua es­tra­tégia agres­siva; a ins­ta­lação de forças e equi­pa­mento mi­litar ofen­sivo dos EUA e de ou­tros países da NATO cada vez mais pró­ximo da Rússia; as múl­ti­plas ope­ra­ções de in­ge­rência, golpes e pro­vo­ca­ções do im­pe­ri­a­lismo; a sua po­lí­tica de im­po­sição de san­ções e blo­queios e de uti­li­zação da ameaça e da chan­tagem nas re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais; o seu sis­te­má­tico aban­dono de acordos sobre de­sar­ma­mento.




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