Estabilizando

Anabela Fino

Com as eleições legislativas antecipadas no horizonte voltaram à ordem do dia, sem pejo e muito desplante, conceitos que nos últimos anos estiveram, por força das circunstâncias, mais ou menos ausentes do discurso político-mediático. Ouve-se de novo falar em «eleger o primeiro-ministro», nos «dois partidos» de governo, e sobretudo, com uma insistência cada vez maior, em «estabilidade».

Para que não nos falte nada, o Presidente da República, na sua mensagem de Ano Novo, acrescentou à lista a «previsibilidade», que como se sabe é o ingrediente da política que mais agrada ao capital, garantido quando no governo estão o que por cá se chama «partidos do arco da governação».

Depois de em 2015 a realidade ter obrigado a meter na gaveta o anacronismo de se considerar democrática a prática de ignorar que todos os votos contam, deixando claro que nas legislativas se elege deputados e não ministros, eis que a não aprovação do Orçamento do Estado para 2022 foi classificada na categoria de catástrofe a exigir medidas drásticas, como se não houvesse outras soluções a não ser a ida às urnas, de resto brandida por Belém muito a jeito de ameaça. Porque o País precisa de «estabilidade» e «previsibilidade», recorde-se. Devemos ser os únicos.

Não consta que os Países Baixos tenham passado a instáveis e imprevisíveis e que os «baixinhos» tenham perdido estatuto por terem ido antecipadamente a votos e demorado nove, NOVE!, longos meses a formar governo. Isto só para citar um exemplo, que coligações, acordos, arranjos, entendimentos entre diferentes forças políticas, com incidência governativa e/ou parlamentar, é o que não falta por essa Europa fora. Daí que, na hora de escolher, valha a pena perguntar para quem e para quê é a tal estabilidade.




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