O «mistério das sondagens»

Carlos Gonçalves

O registo da ERC de entidades credenciadas de sondagens integra 13 empresas e 3 universidades, em que Aximage, Eurosondagem, Intercampus, Marktest e Pitagórica, Instituto de Ciências Sociais-Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa e Universidade Católica-CESOP são dominantes num mercado cuja natureza capitalista fica clara: no poder das ligações a grandes bancos e multinacionais e aos seus «estudos de mercado»; nos investimentos cruzados e negócios com os grupos económico-mediáticos (televisões, jornais nacionais, rádios, digital); na articulação com os partidos do capital e com quem decide no aparelho de Estado. Por junto, um negócio de 66 milhões de euros (em 2020).

Está no «compêndio» que a Eurosondagem «trabalha» para o PS e a Pitagórica para o PSD e que outras empresas dependem ainda mais da «encomenda» e da orientação do grupo mediático, da tese ou do título pré-decidido, da sua campanha eleitoral, ou do Ch e IL. Está provado à exaustão, nas «democracias de mercado» (em que o poder económico comanda o poder político), que as empresas de sondagens pervertem o funcionamento do sistema político, influenciam de forma determinante o voto de muitos cidadãos e são factor de subversão da democracia. É este o «mistério das sondagens».

Isto não acontece por falta de profissionais capazes de uma sondagem séria - cumprindo o rigor das «normas técnicas» e prevendo a tendência real de voto no intervalo da margem de erro (3 a 5%) -, mas porque, em vez disso, o que decide são as relações de propriedade, concretização e divulgação de «sondagens de pensamento único», condicionando até outras instituições para que não se afastem do modelo.

Nestas eleições, uma sondagem que não seja mais ou menos igual às outras não tem comprador. As classes dominantes decidiram que a crise é culpa do PCP, que não votou o OE e «vai ter de pagar», que PS e PSD, mesmo com números torturados, vão polarizar o eleitorado para que, mais ou menos juntos, ou por pressão dos sucedâneos, inchados à força toda, avance a exploração, a concentração da riqueza e a «bazuca».

Vai ser difícil esclarecer e lutar, derrotar a política de direita, os grandes interesses e as suas «sondagens». Mas os trabalhadores e o Povo vão votar. Com confiança e esperança.




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