Governo civil democrático exigido no Sudão
Grandes manifestações populares sucedem-se em Cartum e noutras cidades do Sudão contra a junta militar golpista no poder, tendo forçado já a demissão do primeiro-ministro. O Partido Comunista Sudanês e outras forças oposicionistas exigem um governo civil democrático.
Comunistas sudaneses na primeira linha da resistência à ditadura militar
O primeiro-ministro do Sudão, Abdalla Hamdok, recolocado no poder a 21 de Novembro passado pela junta militar golpista que dirige o país, anunciou a sua demissão, no passado domingo, 2. O pedido de afastamento segue-se às continuadas manifestações populares exigindo um governo civil democrático e à firme recusa das forças democráticas da oposição em aceitar o acordo imposto a Hamdok pelo líder do golpe de Estado de 25 de Outubro, general Abdelfatah al-Burhan.
Essas forças oposicionistas democráticas que lutam contra a ditadura militar integram os Comités de Resistência, a Aliança de Profissionais do Sudão e o Partido Comunista Sudanês (PCS).
Numa nota informativa sobre a situação sudanesa, o PCS lembra que no dia 1 de Janeiro passou mais um aniversário da independência do Sudão mas que neste ano não havia nada para celebrar no país. Já o dia 2 testemunhou protestos de massas, com o slogan «Em memória dos mártires», com milhares de manifestantes inundando as ruas de Cartum e de outras cidades para exigir um governo civil democrático e justiça para as vítimas da repressão policial.
O pedido de demissão de Hamdok está a ser considerado pelos generais, que inicialmente pensaram que o acordo que lhe impuseram e a sua renomeação apaziguariam os protestos populares e legitimariam o golpe de Outubro. Ficou provado, realça o PCS, que estes cálculos estavam errados e que as massas populares continuaram a condenar e a desafiar o golpe de Estado e a rejeitar os actos dos militares golpistas.
A actual crise política no Sudão, destacam os comunistas, foi aprofundada pela recente imposição do estado de emergência «que concedeu poderes draconianos a todas as forças de segurança, ameaçando fazer voltar o país aos anos autoritários de al-Bashir».
A pacífica acção de protesto popular que encheu as ruas de numerosas cidades sudanesas, no domingo, 2, foi confrontada com o uso de «força brutal e excessiva» por parte das forças de segurança, resultando na morte de três manifestantes e em 90 feridos graves. Desde 30 de Dezembro, foram ilegalmente detidos mais de 350 oposicionistas. Após o golpe militar de 25 de Outubro, 57 pessoas foram brutalmente mortas pelas forças de repressão.
Contra a ditadura militar
As forças democráticas da oposição estão empenhadas em conversações urgentes para concretizar uma plataforma política que ajude a criação de uma liderança central para representar os Comités de Resistência, a Aliança de Profissionais do Sudão, o PCS e outros agrupamentos políticos e civis.
Nesta «conjuntura crítica de luta do povo sudanês contra a ditadura militar», o PCS insta todos os partidos irmãos e outros partidos e organizações democráticos e progressistas a prosseguir as suas acções solidárias e a apoiar o seu combate pela liberdade, paz e justiça: exigindo a abolição do estado de emergência e das leis associadas; exigindo a imediata libertação de todos os presos políticos; exigindo que sejam respeitados o direito ao protesto pacífico e o direito de acesso sem limitações aos serviços de Internet.
A luta popular prossegue, entretanto, por um governo civil democrático e o retorno dos militares aos quartéis. Para terça-feira, 4, estava convocada para a capital nova manifestação e o Conselho Soberano de Transição – a junta militar golpista – tinha mobilizado um «impressionante dispositivo» de forças de segurança em torno do palácio presidencial, em Cartum.