Não queiram meter-se em comparações

Filipe Diniz

Passou no dia 17 o centenário de Nadezhda Vasilyevna Popova. Não será um nome conhecido mas merece ser lembrado, e lembrá-lo justifica elucidativos paralelos. Nadesha Popova foi comandante de esquadrão do 46.º Regimento de Bombardeiros Nocturnos da Força Aérea soviética durante a Grande Guerra Patriótica. Os nazis chamavam «Bruxas da Noite» a este regimento composto por mulheres, tanto pelo ruído característico produzido pelo tipo de aviões pilotado como sobretudo pelos estragos provocados. Em 1945 foi-lhe atribuído o título de Herói da União Soviética ao completar a participação em 737 missões de combate, 18 das quais numa só noite.

Uma de entre as muitas mulheres heroínas na URSS. E a que se referem os paralelos mencionados antes? A comparar o muito destacado papel dessas mulheres com o que se passava em outros países igualmente envolvidos na guerra. A Wikipedia, que não perde uma, insinua que Popova apenas fora admitida como piloto de combate em Outubro de 1941 por pressão de Marina Raskova. Antes, haveria resistência em atribuir missões de combate a mulheres, o que a própria história de Raskova desmente.

Que houvesse reservas atávicas sobre a questão não é de admirar. O que merece a pena é procurar paralelos noutros lados. Aquilo com que deparamos é notável: na Grã-Bretanha, em 14 de Junho de 1991 foi admitida, «pela primeira vez em 73 anos», uma mulher piloto na RAF, Julie Anne Gibson. Nos EUA houve milhares de mulheres piloto na altura (as WASP), mas tiveram sempre por tarefa libertar pilotos homens para missões de combate, realizando as mulheres sobretudo voos de transporte interno. E reza a história que dos milhares de candidatas nem uma afro-americana foi aceite. Uma delas desabafou depois: «já era suficientemente difícil combater o preconceito apontado às mulheres, quanto mais ainda por cima ter de combater a discriminação racial.»

Assim, evitem comparações: não há esfera da vida em que a palavra igualdade não seja exemplo no socialismo.




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