«Factos são factos»
A CNN Portugal, o canal que substituiu a TVI24 após o «memorando de entendimento» entre a multinacional norte-americana de comunicação e o grupo económico Media Capital, iniciou as emissões no dia 22 de Novembro. O canal foi apresentado como um salto de gigante na qualidade, independência, imparcialidade e objectividade do jornalismo português. «Factos são factos» foi o slogan repetido no fausto jantar dos Jerónimos oferecido a centenas de «vips».
Vamos então aos factos. E o facto é que o arranque da CNN Portugal levanta enormes dúvidas sobre a tal «nova» «meca» do jornalismo. Inaugurar um canal noticioso com uma entrevista partida em fascículos, qual novela sensacionalista, a um criminoso condenado por três vezes, com penas transitadas em julgado, foragido da justiça, que vende bens arrestados, e que usou o «prime time» para gozar com a justiça portuguesa, com órgãos de soberania, com o Estado e o povo português, insultando a inteligência do comum dos mortais, é tudo menos uma ode ao jornalismo sério e objectivo.
Por mais que nos esforcemos não vislumbramos qual o critério jornalístico, que não o sensacionalismo gratuito, que justifique a decisão de dar tempo de antena a um criminoso, precisamente quando este está em fuga, sabendo-se de antemão que tal não iria acrescentar nenhum dado novo, nem para apurar a verdade nem para ajudar a justiça a capturar o meliante. Aliás, são operações sensacionalistas como estas que contribuem para desacreditar a justiça, banalizar crimes e criminosos, alimentar teses populistas e reaccionárias e afastar mais o jornalismo da sua função social. Este início de emissão da CNN não cheira a novo, cheira a mofo, e mais que isso, foi muito turvo, pois fica por explicar como é que a CNN conseguiu esta entrevista, como e com quem é que a preparou, e se teve ou não acesso a informação privilegiada sobre o paradeiro do foragido. É que o homem não anda propriamente aí a navegar pelo Facebook e uma entrevista destas não se confirma e prepara sem certas certezas. E isto é um facto.