Thomas Sankara, um herói dos povos

Carlos Lopes Pereira

Decorre em Uagadugu, num tribunal militar, o julgamento de 14 pessoas acusadas de envolvimento no assassinato de Thomas Sankara, em Outubro de 1987.

O crime culminou o golpe de Estado que levou à presidência do Burkina Faso um outro capitão, Blaise Compaoré, que governou o país durante 27 anos, até ter sido derrubado por uma insurreição popular, em 2014. Compaoré conseguiu escapar, tendo sido transportado num helicóptero das tropas francesas para a vizinha Costa do Marfim, onde desde então se encontra refugiado.

Sendo um dos principais suspeitos de ter inspirado o golpe de 1987, Compaoré recusou-se a comparecer perante o tribunal – adquiriu, entretanto, a nacionalidade marfinense, o que impediu a sua extradição –, pelo que está a ser julgado à revelia neste processo.

Pode a justiça de Uagadugu ser lenta a encontrar provas para castigar os culpados do crime, mas milhões de burkineses e de outros africanos, e de mais pessoas em todo o mundo, sabem que Sankara foi executado (abatido a tiro, com 12 companheiros, por um esquadrão) pelas suas ideias revolucionárias, que procurou pôr em prática, e pelas transformações progressistas que implantou no seu país. E sabem também que, guiando a mão dos traidores locais a soldo de interesses estrangeiros, por detrás do assassinato estiveram potências imperialistas – como a França e os Estados Unidos da América – que, ontem como hoje, não aceitam que os povos escolham soberanamente os caminhos do seu desenvolvimento e progresso social e procuram impor relações neocolonialistas por todos os meios (assassínios, golpes, sanções, guerras declaradas ou não).

Capitão do exército, Sankara tinha 33 anos quando, em 1983, através de um movimento de jovens oficiais, chegou ao poder no seu país, o Alto Volta, antiga colónia francesa.

Uma das suas primeiras medidas foi mudar o nome do país – passou a chamar-se Burkina Faso, «terra de homens íntegros». Mas fez muito mais, nos curtos quatro anos de governação: combateu a corrupção, reduziu os salários dos dirigentes, proibiu a utilização de carros de luxo no Estado; iniciou uma reforma agrária, entregando terras dos latifundiários aos camponeses; aboliu privilégios feudais e tribais; tomou medidas para combater a seca e o avanço do deserto; distribuiu habitações e reduziu rendas; melhorou os sistemas de saúde e de educação, organizou campanhas de vacinação a crianças e de alfabetização de adultos; promoveu a emancipação feminina, proibindo a poligamia e os casamentos forçados, nomeando mulheres para altos cargos estatais. No plano externo, estabeleceu relações com os países socialistas e conheceu de perto a experiência revolucionária de Cuba, que admirava; perante os seus pares na Organização de Unidade Africana, defendeu o pan-africanismo; denunciou a impossibilidade do pagamento da dívida dos países em desenvolvimento; manifestou-se contra o neocolonialismo e os seus «pequenos serventuários locais».

Por tudo isto, Thomas Sankara, homem íntegro, foi assassinado pelos imperialistas e seus lacaios, tal como o foram, em África, outros combatentes da liberdade dos povos – de Patrice Lumumba a Eduardo Mondlane e Amílcar Cabral. Mas as suas ideias, os seus ideais, são indestrutíveis e continuam, hoje, a fazer o mundo avançar.




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