Branqueamento a pedido
Fazendo juz de não deixar em mãos alheias créditos que são seus, e empenhado que está em não prescindir do seu estatuto de «referência»no apadrinhamento de projectos reaccionários, o Expresso dedicou, numa das suas mais recentes edições, um generoso espaço ao serviço do branqueamento do Chega a pretexto de uma alegada infiltração de neo-nazis naquele partido. A questão não está, sem qualquer desprimor para o afã produtivo das aves poedeiras, dirimir o secular dilema da precedência entre ovo e galinha, mas sim, na matéria que nos trouxe a este escrito de atendendo ao programa, aos principais dirigentes e propostas daquele partido, saber quem infiltra quem. Questão menor tendo em conta o papel e objectivo da peça jornalística, preenchido pelo que ela possibilita, como se vê e lê,de indignado desmentido tão propício àquele enfeite democrático que, em vésperas de eleições, se aconselha.
Nesta estoica e convicta empreitada editorial a que o semanário não poupa esforços regista-se ainda o exercício para apresentar o Chega enquanto detentor da capacidade de atrair apoios «à esquerda» e disponível para negociar com PSD e CDS (com quem partilha as suas pulsões e projectos reaccionários e antidemocráticos) soluções futuras de governação local.
Tivesse o labor jornalístico outros horizontes e motivações, mais interessante seria dar conta das articulações entre estes três partidos para, em vários concelhos e freguesias, apresentarem «à vez» candidaturas de acordo com os seus interesses comuns. E já agora dar contada extensão de casos de multiplicação de candidatos do Chega em concelhos diferentes. Uma prática ilegal que após a intrigante posição da Comissão Nacional da Protecção de Dados, à margem da lei eleitoral e sem poderes para a alterar, se pronunciou pela rasura das residências nas listas de candidatos afixadas, tornando mais difícil oescrutínio de práticas ilícitas.