Apesar de tudo

Manuel Gouveia

A 13 de Agosto completaram-se 150 anos sobre o nascimento de Karl Liebknecht. militante e dirigente do Partido Social-Democrata Alemão (SPD), fundado, entre tantos outros, por Bebel e Liebknecht (pai), sob influência de Marx e Engels. No início do século XX, no partido operara-se a transformação da «utilização da legalidade burguesa em servilismo para com ela». Com o aproximar da I Grande Guerra Mundial, Liebknecht é o único deputado que vota contra os créditos de guerra, e convoca – junto com o núcleo internacionalista do SPD que se aglutinará na Liga dos Spartakistas - uma gigantesca manifestação contra a Guerra, na sequência da qual Liebknecht será encarcerado por dois anos.

A Revolução alemã de Novembro de 1918 instaura a República, imediatamente traída por uma aliança secreta entre os militares e os líderes oportunistas do SPD. A 30 de Dezembro de 1918 o Partido Comunista Alemão tinha em Liebknecht um dos seus fundadores, já sobre a influência da grande Revolução que libertara a classe operária russa. No início de Janeiro de 1919 perto de um milhão de trabalhadores manifestam-se em Berlim. O Governo alemão lança uma brutal repressão que fará mais de 20 mil vítimas. A 15 de Janeiro Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo são brutalmente assassinados pelos Freikorps a mando do governo do SPD. A burguesia defende a ferro e fogo a sua ditadura. Uns anos mais tarde, será com esse ferro e esse fogo que adoptará a forma nazi-fascista.

A 15 de Janeiro, já postumamente, sairia no jornal do Partido o último texto de Liebknecht: «Estaremos nós ainda vivos quando atingirmos a nossa meta? O nosso programa, esse, viverá (...). Apesar de tudo!»

Em 1951, a Cidade de Berlim decidiu homenagear Liebknecht com uma estátua, da qual se construiu apenas um pedestal que ficaria longos anos na terra de ninguém entre os muros que marcaram a fronteira entre Berlim «Ocidental» e a RDA. Com a anexação o memorial seria removido, para ser reinstalado pelos poderes municipais em 2003. E esse singelo pedestal rodeado de prédios modernos serve hoje, ao visitante menos distraído de Berlim, para ilustrar as verdadeiras contradições de uma cidade mergulhada na propaganda com que a burguesia celebra - e tenta preservar – a sua provisória vitória.




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