África nunca será porto seguro de Israel
O presidente da Comissão da União Africana (UA), o chadiano Moussa Faki Mahamat, anunciou a admissão de Israel como observador junto da instituição pan-africana. Telavive tinha perdido aquele estatuto em 2002, quando a Organização da Unidade Africana, criada em 1963, foi substituída pela União Africana.
Face ao repúdio de vários países pela concessão do estatuto de observador a Israel, Mahamat justificou a sua decisão, adoptada sem consulta a qualquer órgão da UA, com o restabelecimento de laços diplomáticos entre a «maioria» dos Estados membros e Telavive. (Só a título de exemplo, recorde-se que um dos países africanos que estabeleceu recentemente relações com Israel foi o Sudão: os Estados Unidos da América, em finais de 2020, ainda no mandato de Trump, forçaram esse gesto a troco de retirar Cartum da sua lista de «apoiantes do terrorismo». Assim mesmo: chantagem descarada!).
Quanto ao estatuto de observador oferecido a Israel, e perante as críticas surgidas, a questão será discutida numa reunião do Conselho Executivo da UA, em Outubro.
Entre os Estados que rejeitaram Israel como observador da UA, figuram Moçambique, África do Sul, Argélia, Egipto, Tunísia, Mauritânia, Djibuti e Comores. Muitos outros – a UA tem 55 membros –, da Nigéria ao Zimbabwe, passando pelo Senegal, Tanzânia, Botswana e Eritreia, manifestaram-se disponíveis para votar contra a presença de Israel como observador, situação, aliás, de que goza a Palestina.
Apoiando a posição do governo do seu país, o Partido Comunista Sul-Africano (PCSA) opôs-se firmemente e condenou a concessão do estatuto de observador junto da UA ao Estado racista de Israel, denunciando que as acções israelitas violam a letra e o espírito da Carta da UA.
«O povo da Palestina sofre ainda a opressão do criminoso Estado israelita do apartheid» e «isso é algo que o povo africano não pode tolerar, tendo em conta a sua história de subjugação pelo domínio colonial», afirmam os comunistas sul-africanos. Mais: «Israel é uma força colonialista e, perpetrando e propagando a sua dominação colonial, impõe a política de apartheid, considerado pelas Nações Unidas como crime contra a humanidade. O povo da Palestina não imagina que o continente africano possa ser porto seguro para esse criminoso regime. O apartheid israelita torturou e encarcerou centenas de crianças nas suas prisões, além de muitas mulheres e homens. E isto é apenas a ponta do iceberg do conjunto de crimes israelitas».
Os comunistas sul-africanos lembram que, em Março deste ano, o Tribunal Penal Internacional pretendeu iniciar uma investigação sobre a situação na Palestina relativamente a crimes de guerra cometidos desde 2014, mas Israel, plenamente consciente dos seus crimes, recusou-se a cooperar.
O PCSA reiterou a sua solidariedade com o povo da Palestina e a sua corajosa luta pelo direito à autodeterminação, incluindo o direito de regresso de todos os que foram expulsos da sua terra. E convocou os povos africanos a unir-se na luta contra o apartheid israelita e a reforçar a solidariedade com o povo combatente da Palestina.
Numa perspectiva mais ampla, os comunistas sul-africanos reafirmam que, hoje, a luta mundial contra o imperialismo não é possível sem uma frente unida revolucionária anti-imperialista.