Dramáticas desigualdades
De cada vez que são publicados dados estatísticos da importância de um Censo da população tocam sinais de alarme. Os dados preliminares dos Censos 2021 confirmam a regra. O que já está divulgado confirma tendências que têm décadas, nomeadamente no que diz respeito à concentração da população na zona litoral e à desertificação do interior, em alguns concelhos verdadeiramente galopante.
Se o panorama territorial é o que é, há obstinadas políticas de fundo que a ele conduziram. É o resultado de um confronto entre vagas sucessivas de políticas de direita e as necessidades de verdadeiro progresso nacional – nomeadamente nos termos que a Constituição consagra.
Um ideólogo da direita, Hernâni Lopes, escrevia há mais de 30 anos: «do ponto de vista dos«operadores económicos globais», Portugal é «o fim da Europa e a sua evolução interna tenderá a ser no sentido de desequilíbrios crescentes». Havia, portanto, que «concentrar recursos na(s) grande(s)/ área(s) metropolitana(s)». A política de abdicação do interesse nacional tem expressão geo-económica: o Portugal da grande burguesia nacional é territorialmente encurtado e economicamente dependente.
Os mecanismos de subalternização do país no quadro da «integração europeia» e da divisão internacional do trabalho dela resultante assumem papel central. Desde critérios de traçado e investimento rodoviário nas IP (cuja rede complementar de IC, e local e regional não as acompanhou) até estratégias de reorganização regional supranacional nunca objecto de debate, como é o caso do «eixo galaico-português Lisboa/Porto/Vigo/LaCoruña», hoje tão visível nos mapas dos Censos. Ou critérios que restringiram o traçado do gasoduto de abastecimento de gás natural: é curto, mas percorre um território onde se situa «75% da população e 85% do PIB», como foi dito na altura. E, sobretudo, políticas de destruição dos sectores primário e secundário e do aparelho produtivo em geral.
Basta cruzar os dados dos Censos com outros do mesmo INE, por exemplo as Estatísticas do Rendimento ao nível local (2019), para ter o retrato de um país cujo principal traço é uma dramática desigualdade – territorial, social, económica, demográfica.
É mais do que tempo de romper com o rumo que aqui conduziu.