Moldar aos desejos

As sondagens são aqui tema recorrente, não tanto pelo que representam em si (e a “ciência” por detrás dos resultados que vemos por aí daria muito por que contar) mas essencialmente pelo instrumento que estas representam no plano mediático: menos para retratar intenções eleitorais num determinado momento e muito mais para as dirigir, moldando resultados eleitorais.

Vejamos a mais recente leva de sondagens, com a chancela SIC/Expresso.

A primeira a ver a luz do dia foi a relativa a Almada, dando um empate técnico entre PS e CDU. Logo a emissão da SIC iniciou um ciclo de directos durante a tarde, a partir de uma rua de Almada, pedindo a quem lá estava comentários à sondagem (que os questionados conheciam pela voz da repórter). Rapidamente os resultados que a SIC acabara de emitir se viram alterados pela vox populi que expressava apoio e elogios à gestão do PS – incluindo um momento de maior ingenuidade, em que a questionada acabava por dizer que era “suspeita” por ser do PS. Esta última resposta acabou por entrar numa peça posterior, mas já sem a confissão. Um exemplo de como dar notícia de uma sondagem não só ignorando o seu resultado mas destacando o resultado desse método imbatível que é usar respostas de quem passa na rua para retirar conclusões sobre futuros resultados eleitorais.

No dia seguinte foi a vez do concelho do Porto, alvo de um tratamento editorial que ignorou uma das duas principais conclusões a retirar do resultado. Que este prevê a reeleição folgada de Rui Moreira é dado conta, mas o outro facto é apagado: a CDU é a única força que sobe relativamente ao resultado de 2017, com uma percentagem equivalente ao PSD (que, recorde-se, teve a presidência da Câmara Municipal do Porto entre 2001 e 2013). Uma outra estratégia no noticiar de uma sondagem: quando o resultado é tal que o único assunto digno de notícia (no sentido em que é novo) é a subida da CDU, ignora-se e passa-se à frente.

Por fim, a última sondagem a aparecer foi, na última semana, a relativa ao concelho de Lisboa. Aqui o objectivo de recriar uma realidade alternativa ao que os números da sondagem mostram aproximou-se do que foi feito em Almada, mas com uma diferença na forma. Na senda da grande campanha de promoção da candidatura e da figura de Carlos Moedas (candidato do PSD/CDS na capital), a reacção imediata da SIC foi a de construir um cenário de disputa acesa entre este e a candidatura do PS, na figura de Fernando Medina. Na emissão da SIC Notícias, logo após ser revelado o resultado, foram dedicados mais de 20 minutos aos dois candidatos, qual duelo autárquico. O problema é que, tal como nada o indicava até aqui (em contraste com o que seria de crer face ao frenesim de certa imprensa em torno de Moedas), também os números da SIC/Expresso não mostram vislumbre de duelo, mas um fosso superior a dez pontos percentuais entre ambos. Aliás, a confirmar-se, PSD e CDS teriam juntos, em 2021, um resultado idêntico ao que registaram em 2017, separados. De novo, quando os factos não batem certo com os desejos de quem determina as agendas mediáticas, ignoram-se.



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