Resistência e mobilização em defesa da Revolução cubana

Centenas de milhares de pessoas participaram, em Havana e em dezenas de outras cidades de Cuba, em acções de apoio à Revolução, reafirmando a rejeição às tentativas de ingerência nos assuntos internos do país e ao bloqueio económico, comercial e financeiro imposto pelos EUA. Miguel Díaz-Canel denunciou as acções de guerra não convencional perpetradas contra Cuba.

Cuba é alvo de uma sofisticada e violenta campanha mediática do imperialismo

No terreiro de La Piragua, junto ao Malecón de Havana, juntaram-se no sábado, 17, desde cedo, mais de 100 mil pessoas em representação do povo cubano, para reiterar o seu apoio ao governo e à Revolução. Unia os participantes, que empunhavam bandeiras e dísticos, a convicção de que cabe aos revolucionários cubanos defender a revolução.

Intervindo no comício, o primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba e presidente da República de Cuba, Miguel Díaz-Canel, apelou ao reforço da unidade popular e da paz em defesa da Revolução cubana. E condenou as tentativas de ingerência contra Cuba e o seu povo, denunciando os actos de guerra não convencional para promover o vandalismo, a sabotagem e o acosso, com a cumplicidade de forças poderosas e de milhões de dólares.

Na presença do general do Exército Raul Castro e de membros do governo e dirigentes do Partido e das organizações sociais e de massas, Díaz-Canel rejeitou essas acções de ódio – Cuba «jamais será terra de ódio», garantiu –, e acusou o imperialismo de procurar silenciar qualquer voz sobre a verdadeira realidade no país, fazendo proliferar mentiras e imagens falsas através de poderosos meios.

Considerou que Cuba está sob o fogo sofisticado de uma ciberguerra, que inclui no seu arsenal agressivo o ciberterrorismo e o terrorismo mediático. E revelou que os sítios web do Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Presidência da República, de publicações como Cubadebate, Granma, Juventud Rebelde e outras, estão a sofrer ciberataques, isto no meio de uma feroz campanha de demonização do governo cubano por parte dos meios de comunicação dominados pelo imperialismo.

Por sua vez, Aylín Álvarez, dirigente da União dos Jovens Comunistas, disse que a solução dos problemas dos cubanos nunca estará em mãos alheias: «O povo cubano revolucionário não acredita em falsas ajudas humanitárias que trazem consigo ingerências estrangeiras». Nesse sentido, ressaltou o trabalho da juventude cubana no combate à pandemia de COVID-19 que há 16 meses flagela Cuba e exortou a que se continue a trabalhar em paz, com harmonia e unidade, para construir tempos melhores.

Também Gerardo Hernández, um dos cincopatriotas cubanos que foi encarcerado pelos EUA e é agora coordenador dos Comités de Defesa da Revolução (CDR), condenou os intentos do imperialismo de minar a unidade dos cubanos «e destruir assim a paz em que sempre temos vivido». Referiu-se à participação de sectores populares nos distúrbios do passado 11 de Julho em diferentes lugares do território, comentando que entre os que se manifestaram havia pessoas com preocupações e problemas legítimos. «O dever dos revolucionários é aproximar-nos desses cidadãos, incluindo os que possam pensar diferente, e escutá-los, dialogar, encontrar pontos em comum», afirmou. Contudo, enfatizou, «os lacaios do imperialismo, esses sim, são nossos inimigos, assim como os que saem a manipular, afectam a tranquilidade dos bairros, atiram pedras contra hospitais pediátricos e coquetéis Molotov; com esses não temos nada a conversar».

Independência e soberania

A Assembleia Nacional do Poder Popular condenou a operação político-mediática contra Cuba, orientada a partir dos EUA e levada a cabo pelas redes sociais com incitamento à violência.

Numa declaração, o parlamento dirige-se a deputados, grupos de solidariedade e legisladores de outros países em defesa da verdade de Cuba e condenando a campanha comunicacional contra a Revolução cubana.

Destaca que a agressão a Cuba foi feita através de padrões automatizados, centenas de milhares de mensagens pelo Twitter, utilização intensiva de contas falsas (bots), algoritmos e perfis recém-criados para a ocasião, com o apoio de meios internacionais. «Incitaram ao crime, à desordem e à indisciplina social, ao mesmo tempo que tergiversam para o mundo, total e escandalosamente, a nossa realidade, como parte da guerra não convencional orientada e financiada a partir dos EUA», realça a declaração. Tudo isso, sublinha, para conseguir uma mudança de sistema que o povo cubano elegeu livre e soberanamente, como referendadona Constituição aprovada em Abril de 2019 por 86,85 por cento dos que votaram, numa eleição democrática e com ampla participação.

O parlamento cubano repudia a difusão de «imagens manipuladas de factos ocorridos em outros países para afiançar, como exigem os manuais, que não há governabilidade em Cuba, que se vive um caos nacional, ao mesmo tempo que se refere uma repressão interna que não existe». Realça que a agressão ocorreu num momento tenso pelo impacto da pandemia de COVID-19 e o recrudescimento do bloqueio económico, comercial e financeiro imposto pelos EUA há quase seis décadas. E assinala que «agora tentam preparar o terreno para uma agressão militar, com o pretexto da bem conhecida intervenção humanitária, o que constitui uma violação das nossas leis, do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas».

O texto recorda que em Cuba não houve a explosão social esperada e promovida por Washington mas sim distúrbios, actos de vandalismo, agressões, alterações da ordem pública, acções que constituem flagrantes delitos e rompem a tranquilidade cidadã característica do país. Enfatiza que cabe aos cidadãos de Cuba procurar soluções para os problemas, enriquecer e cumprir as estratégias económico-sociais, avançar com criatividade e rectificar o que for preciso. «O nosso povo tem arreigados valores de unidade, paz, concórdia, respeito, solidariedade, amor e patriotismo para defender a sua independência e soberania com valentia e coragem, ao preço que for necessário», conclui a declaração.

Partidos comunistas e operários reiteram: «Cuba Vencerá!»

Mais de 60 partidos comunistas e operários, incluindo o PCP, expressaram a sua solidariedade a Cuba, denunciando a provocação orquestrada pelos EUA e grupos contra-revolucionários.

Intitulada «Cuba vencerá!», a posição conjunta realça a denúncia das «provocações orquestradas e dos actos subversivos de grupos contra-revolucionários em Cuba e no estrangeiro, que tentam criar uma imagem de desestabilização para justificar a intervenção imperialista contra Cuba e o seu povo, explorando os problemas causados pelo recrudescimento do criminoso bloqueio imposto pelos EUA e agravados no contexto da pandemia de Covid-19».

«Denunciamos a política dos EUA e seus aliados, que ao longo de mais de 60 anos intensificaram o inaceitável e criminoso bloqueio, desafiando as resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas, incluíram Cuba na lista de “Estados apoiantes do terrorismo” de uma forma arbitrária e unilateral e instigaram grupos mercenários contra Cuba e o seu povo», reiteram os partidos subscritores.


Abraço solidário para Cuba soberana

 

Quando Cuba, o seu povo e a sua Revolução mais precisam de solidariedade, Portugal não falta à chamada: no dia 15, centenas de pessoas concentraram-se junto à Embaixada de Cuba em Lisboa exigindo o fim do bloqueio, das ingerências e das provocações, e o respeito pela soberania.

 

A convocatória da concentração partiu da Associação de Amizade Portugal-Cuba (AAPC), da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional(CGTP-IN) e do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), mas rapidamente motivou a adesão de outras organizações e entidades, como sindicatos de diversos sectores, o Movimento Democrático de Mulheres (MDM), a União de Resistentes Antifascistas Portugueses(URAP) ou a Associação Projecto Ruído.

 

Sob o lema Não ao Bloqueio dos EUA! Cuba Vencerá!, o apelo dos promotores denunciava a hipocrisia dos que, como os EUA, «tentam asfixiar a economia de Cuba e impor dificuldades ao povo cubano» e rejeitava a ingerência e o bloqueio norte-americano, «que atenta gravemente contra os direitos do povo cubano e o desenvolvimento do seu país». Recordava, ainda, que «durante a Administração Trump, mesmo perante o grave quadro pandémico mundial, os EUA reforçaram as criminosas medidas coercivas contra Cuba – que a Administração Biden mantém –, e incrementaram as acções desestabilizadoras dirigidas contra a soberania de Cuba e os direitos do seu povo». Cuba não está só! e Cuba Vencerá!, afirmavam.

 

Foi com estas convicções que tantos ali compareceram, junto da representação diplomática cubana em Portugal, numa firme expressão de solidariedade que terá seguramente atravessado o Atlântico e chegado ao povo cubano, ele próprio exemplar quando se trata de solidariedade. Ao fazê-lo, juntaram-se a tantos outros que, por esse mundo fora, se ergueram face às provocações e ameaças do imperialismo norte-americano contra Cuba, o seu povo e a sua Revolução: em tantos idiomas se ouviu por estes dias Viva Cuba Socialista, Cuba Vencerá! e Cuba Sim! Bloqueio Não!.

 

Crime lesa-humanidade

 

Na concentração de Lisboa, intervieram representantes das três organizações promotoras – Gustavo Carneiro, pelo CPPC; Libério Domingues, pela CGTP-IN; e Eduardo Fonseca, pela AAPC – e ainda Simão Bento, em nome da Associação Projecto Ruído. A apresentação esteve a cargo de Mariana Silva.

 

Todos repudiaram o bloqueio e denunciaram a instrumentalização das suas consequências dramáticas na sociedade cubana para desestabilizar o país e abrir caminho a novas e mais graves ofensivas do imperialismo contra a liberdade e a soberania de Cuba.

 

Eduardo Fonseca considerou o bloqueio o «principal obstáculo ao desenvolvimento económico e social de Cuba» que, pelas suas consequências, constitui um «crime lesa-Humanidade». Para o dirigente da Associação de Amizade, «há mais de 60 anos que Cuba está sujeita a uma guerra não declarada desencadeada pelo regime imperialista norte-americano».

 

Libério Domingues, da CGTP-IN, garantiu que o bloqueio «limita a capacidade de Cuba produzir, de se desenvolver e crescer economicamente». O dirigente sindical salientou ainda que «tudo o que é básico e essencial» à subsistência do povo cubano lhe é dificultado, «apenas porque quer ser independente e soberano, porque tem alternativas ao modelo capitalista e neoliberal».

 

Apesar do bloqueio, Cuba conseguiu produzir vacinas próprias contra a COVID-19, feito inédito na América Latina.

 

Mentiras e direitos

 

A ofensiva mediática que sempre acompanha as ofensivas imperialistas, sejam estas militares ou económicas, foi também denunciada na concentração de dia 15. Como lembrou Gustavo Carneiro, «o guião é sempre o mesmo: aperta-se o cerco económico, cavalga-se as dificuldades por este causadas, manipula-se a informação e apresenta-se a solução: o golpe, a intervenção humanitária, a invasão».

 

Aliás, acrescentou, «já vimos este filme antes e conhecemos o seu desfecho», referindo-se à destruição do Iraque e da Líbia, mas também à acção do imperialismo na América Latina durante os anos da Operação Condor(com muitos milhares de mortos, torturados e desaparecidos) ou, mais recentemente, nos golpes perpetrados na Bolívia, nas Honduras, no Paraguai e no Brasil.

 

Simão Bento sublinhou as «formas extraordinárias de participação popular» praticadas em Cuba e os amplos direitos garantidos ao seu povo, resumidos na célebre frase de Fidel Castro: «esta noite, milhões de crianças dormirão na rua. Nenhuma delas é cubana.» Também os outros oradores destacaram a garantia a todos os cubanos dos direitos à saúde, à educação, à protecção social, à habitação, à infância – tantas vezes não respeitados, mesmo em países ditos desenvolvidos.

 

O povo cubano goza ainda de outro direito, bem importante nos dias que correm, o direito a decidir soberanamente do destino, livre de ingerências externas. Ainda em 2019, a nova Constituição da República de Cuba – discutida durante um ano com ampla participação popular – foi sufragada em referendo: 95 % dos eleitores foram às urnas e destes 86% votaram favoravelmente a reforma constitucional.

 

Justa retribuição

 

Aquela concentração, como tantas outras acções realizadas pelo movimento da paz e da solidariedade português ao longo das décadas, representou (mais) uma justa retribuição pelo que Cuba e a sua Revolução têm feito em prol da liberdade, da soberania e dos direitos dos povos: a luta pela independência de Angola e pelo fim do apartheid na África do Sul; a alfabetização de milhões de venezuelanos e bolivianos; o apoio médico na África Ocidental durante os graves surtos de ébola; o envio de brigadas do Contingente Henry Reeve para combater a COVID-19, inclusivamente em países europeus, como Itália; o acolhimento a revolucionários de várias nacionalidades, perseguidos nos seus países – tudo isto foi e é prática solidária da Revolução cubana.

 

E se algo a História já mostrou é que a resistência do povo cubano e a solidariedade internacionalista, juntas, são indestrutíveis!





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