Alta voltagem

João Frazão

Ainda não me tinha dado conta do comboio de partidos que vai atrelado à candidatura de José Manuel Silva à Câmara Municipal de Coimbra.

Vale a pena sinalizar esta situação desde logo porque ela confirma o que temos dito sobre falsos independentes, uma vez que esta pessoa é já hoje vereador eleito por uma lista dita de «independentes» que, como está à vista, para além de responder a uma agenda pessoal, rapidamente voltou à barriga da mãe, agregando agora reaccionarices de diversas proveniências.

Entre estas (e registe-se que junta PSD, CDS, Aliança, PPM, Nós Cidadãos e Rir), deparo-me com mais um produto reciclado dos velhos baús do sistema, que apareceu agora à luz do dia sob o nome de VOLT e debaixo de um diáfano manto roxo, qual anunciador da ressurreição.

Fui à procura de quem anda, noutras paragens, de braço dado com esta organização, que, na sua declaração de princípios, manifesta juras de amor eterno à Europa, ao europeísmo, à NATO, à intervenção mínima do Estado ou à economia de mercado, e lá encontrei, em Oeiras, uma outra coligação que junta o dito VOLT, desta vez, ao Livre e ao BE.

Com este à-vontade para piscar tanto à direita como à esquerda até porque, como tantos outros, diz que isso da esquerda e da direita já nem se usa, estamos perante um notável ecletismo de um partido que, afirmando-se federalista, embora isso não conste da tal declaração de princípios, se afirma como uma espécie de secção portuguesa de uma estrutura internacional com o mesmo nome.

Para os VOLTs desta vida, que se apresentam sempre com um discurso de novidade, para defenderem as mais velhas teses e são devidamente acarinhados e promovidos no tempo certo pela comunicação social dominante ao serviço dos interesses do capital, já nós estamos preparados.

Mas fica-nos a interrogação de quais serão os pontos programáticos em comum com forças que se arvoram de radicalidades de esquerda para apoiarem, todos juntos, uma candidatura autárquica. Será o VOLT, que defende uma coisa e o seu contrário a propósito, por exemplo, da privatização de serviços? Ou sobre matérias com esse melindre o programa em Oeiras será omisso?

Mesmo em eleições, há limites de decência e de higiene política que é preciso manter. Até porque meter os dedos nas tomadas às vezes dá curto-circuito.




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