Teste ao ambiente
Propõe-se ao leitor do Avante! um exercício simples: registar a primeira frase da primeira notícia do noticiário da noite de um canal à escolha, durante uma semana. No noticiário da RTP da última semana ficou assim: «são filas e filas para vacinar», «absolvição para Azeredo Lopes», «o presidente do Benfica foi detido», «todos à espera do juiz na Operação Cartão Vermelho», «Rui Costa é o novo presidente do Benfica». Sem muito esforço, podem encontrar-se outros temas: Joe Berardo detido. Buscas na EDP e na APA. Luís Filipe Vieira detido. Julgamento do caso de Tancos. A variedade não é grande.
A sucessão de casos de todo o tipo cria uma sensação sufocante e o ambiente propício ao crescimento de todos os reaccionarismos. Cria-se uma ideia de insegurança permanente – medo da doença, sua ou dos que lhe são queridos; medo do desemprego, da pobreza, de não conseguir pagar as contas; medo de assaltos, acidentes e catástrofes iminentes. Paralelamente, as notícias sobre buscas, crimes, corrupção, são dadas sem rigor nem contexto, repletas de certezas e sem presunção de inocência, sem explicações, mas cheias de pormenores irrelevantes (que nos interessa saber a ementa dos detidos?!). Como se Portugal fosse um paraíso para bandidagem de todo o tipo, à espera de um xerife justiceiro que os ponha na ordem. Como se fosse a lei do mais forte a única em vigor e o salve-se quem puder a regra da vida em sociedade.
A revolta com as injustiças, a indignação com a corrupção, a luta por uma sociedade onde todos tenham direito a uma vida plena e feliz são justas e necessárias. Não devem ser confundidas com generalizações e mentiras: «um país de corruptos», «os políticos todos iguais», a culpa de o país estar como está é dos «imigrantes», de quem tem o «rendimento mínimo» ou de certas minorias étnicas; a epidemia piorou por causa «dos jovens» irresponsáveis – a lista podia ser infindável.
O tom e o ambiente criados, nos meios de comunicação social e por certos discursos políticos, têm e terão consequências. A esse ambiente o PCP contrapõe factos, responsáveis, apela à inteligência, à solidariedade, à luta. Apresenta soluções, aponta caminhos. Mesmo que não dê azo a elogios na comunicação social, é o rumo certo e seguro.