A melhor propagandista

António Santos

Dez milhões de estado-unidenses enfrentam a iminente perspectiva de serem despejados e ficarem sem um tecto. São 15 por cento dos inquilinos dos EUA e têm rendas em atraso. A única barreira que os separa da condição de sem-abrigo, uma moratória aos despejos aprovada em Outubro para conter os efeitos da pandemia, está por um fio. E não há qualquer plano para evitar a catástrofe pré-anunciada.

A moratória do Centro de Controlo de Doenças foi considerada ilegal pela juíza Dabney Friedrich que, esta semana, cedeu à campanha judicial posta em marcha pelo lobby dos senhorios. O Departamento de Justiça já recorreu da decisão, mas a sentença torna mais improvável a extensão da medida excepcional que, de outra forma, terminaria no final de Junho sem que a Casa Branca tivesse anunciado qualquer intenção de a renovar.

Perante um Partido Democrata mudo, o congressista republicano Thomas Massie explicou que «a moratória não ajudou as pessoas a ficar nas suas casas; ajudou-as a ficar nas casas dos outros» e congratulou-se com o fim da «ideia socialista» de que «ter uma casa é um direito».

Mas não fiquemos tentados a suspeitar que Thomas Massie possa secretamente ser um perigoso bolchevique infiltrado no Partido Republicano para fazer propaganda e agitação comunista, ainda que invertida. Também Robert Pinnegar, presidente da Associação Nacional do Apartamento, que representa o lobby dos maiores proprietários dos EUA, aproveitou a efeméride do Dia da Vitória sobre o nazi-fascismo para celebrar o possível despejo de 10 milhões de trabalhadores americanos como «uma derrota do socialismo e do comunismo». Vindo de quem vem, pode o epitáfio parecer a propaganda comunista mais eficaz de todos os tempos. Se assim for, é porque quando se tem razão a realidade é sempre a melhor propagandista.




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