O Partido e a luta que não se escondem

Octávio Augusto (Membro da Comissão Política)

O 25 de Abril de 1974, que pôs fim a 48 anos de di­ta­dura fas­cista, foi mar­cado por um le­van­ta­mento mi­litar, logo se­guido por um le­van­ta­mento po­pular, que não se li­mitou a apoiar os mi­li­tares, antes tomou a ini­ci­a­tiva e em muitos as­pectos de­ter­minou e marcou de­ci­si­va­mente o pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário.

Há um ano, Abril e Maio deram a res­posta. Dentro de dias, vol­tarão às ruas

Foi um pro­cesso he­róico e exal­tante de li­ber­tação e trans­for­mação po­lí­tica e so­cial, jus­ta­mente con­si­de­rado como um dos mo­mentos mais altos da his­tória de Por­tugal. Uma re­vo­lução que ficou plas­mada na Cons­ti­tuição de 1976, uma das mais avan­çadas do mundo, e que ainda hoje, apesar de su­ces­sivos golpes e am­pu­ta­ções, é um obs­tá­culo aos ob­jec­tivos da di­reita.

Pas­sados 47 anos, torna-se agora ainda mais evi­dente o es­forço ar­ti­cu­lado e com meios cada vez mais po­de­rosos e so­fis­ti­cados dos ini­migos de Abril – ainda que muitas das vezes os­ten­tando cravo na la­pela –, que tudo têm feito para bran­quear e su­a­vizar o re­gime fas­cista que teve como um dos seus prin­ci­pais rostos Sa­lazar, o tal que in­sistem em re­a­bi­litar, desta vez com a cri­ação do museu do Estado Novo.

As forças mais re­ac­ci­o­ná­rias, ao ser­viço dos grupos eco­nó­micos, de­ten­tores da co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante, sentem que este é o mo­mento para acertar contas com Abril.

Dé­cadas de po­lí­ticas de di­reita, an­co­radas numa subtil ope­ração de for­ma­tação ide­o­ló­gica, abriram as portas para a pro­mis­cui­dade entre o poder eco­nó­mico e o poder po­lí­tico. Em pa­ra­lelo com a con­tínua de­gra­dação eco­nó­mica e so­cial do País, ins­talou-se a cor­rupção e o be­ne­fício des­ca­rado, e cada vez mais à luz do dia, da­queles que vol­taram a ser os donos disto tudo.

La­vrada a terra, se­meado o po­pu­lismo, aí está a di­reita re­ac­ci­o­nária a re­a­grupar-se pro­mo­vendo ou­tros pro­ta­go­nistas. O surto epi­dé­mico as­sentou que nem uma luva nos seus ob­jec­tivos: ins­talar o medo, o pâ­nico, a in­se­gu­rança, fe­char os por­tu­gueses em casa, sen­tados à frente do te­le­visor ou do com­pu­tador, in­cu­tindo-lhes a ideia de que agora o que im­porta é que nos sal­vemos todos.

A pre­texto da pan­demia li­quida-se di­reitos, corta-se sa­lá­rios e ou­tras re­ga­lias ad­qui­ridas, des­pede-se a torto e a di­reito. E se tudo isto acon­te­cesse sem qual­quer re­sis­tência e luta e até com com­pre­ensão seria per­feito para os ob­jec­tivos do ca­pital.

 

Para nossa ale­gria...

E se o 25 de Abril não se co­me­mo­rasse e o 1.º de Maio muito menos? Seria igual­mente per­feito para o ca­pital mo­no­po­lista!

No en­tre­tanto, aqueles que tudo fi­zeram – e fazem – para des­man­telar, des­truir e pri­va­tizar os ser­viços pú­blicos, de­sig­na­da­mente o Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, des­do­bram-se em elo­gios aos que estão na linha da frente do com­bate à epi­demia… ao mesmo tempo que, na co­mu­ni­cação so­cial que é sua pro­pri­e­dade, am­pli­ficam o su­posto caos e a fa­lência desses ser­viços.

Tudo têm feito na vã ten­ta­tiva de con­di­ci­onar ou pa­ra­lisar o mo­vi­mento sin­dical de classe e o par­tido dos tra­ba­lha­dores. Como não con­se­guiram tal in­tento, in­ten­si­ficou-se a ope­ração re­ac­ci­o­nária, sol­taram-se todos os cães da ofen­siva ide­o­ló­gica e do an­ti­co­mu­nismo. Até para os mais dis­traídos se tornou evi­dente o seu ob­jec­tivo es­tra­té­gico: en­fra­quecer para li­quidar o mo­vi­mento sin­dical de classe e o PCP.

Nem eles con­se­guiram o que que­riam e querem, nem o PCP se pôs a jeito: ao 25 de Abril e ao 1.º de Maio se­guiram-se ou­tras re­a­li­za­ções, com des­taque para a Festa do Avante!, o Con­gresso e as co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário do PCP. Ficou pro­vado que mesmo nas ac­tuais cir­cuns­tân­cias é pos­sível exercer di­reitos.

Há um ano, o tiro saiu-lhes pela cu­latra. Res­pei­tando re­gras sa­ni­tá­rias, Abril e Maio deram a res­posta. Dentro de dias, a re­sis­tência e a luta terão ex­pressão de massas e vol­tarão de novo às ruas deste País. Para tris­teza e frus­tração deles e para nossa ale­gria, a luta con­tinua sempre e em todas as cir­cuns­tân­cias!




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