Orçamento de Guerra

Ângelo Alves

A ideia, mil vezes repetida pelos media dominantes, que a Administração Biden significaria uma mudança (de fundo, diziam alguns) face à política externa da Administração Trump, assente no diálogo e diplomacia, está a desmoronar-se a cada dia que passa. Isso é evidente nos discursos de Biden e de outros responsáveis, nos desenvolvimentos em várias regiões do Mundo como o Leste europeu, Médio Oriente e Ásia-Pacífico, e fica agora ainda mais claro na proposta do Orçamento Federal dos EUA.

No passado dia 9 a Administração Biden apresentou ao Senado o maior Orçamento da Defesa da História daquele País. No ano fiscal de 2022 o Governo dos EUA propõe-se gastar 753 mil milhões de Dólares na “Defesa”- 715 mil milhões para o Pentágono e 38 mil milhões para outros departamentos. Este valor, cerca de metade de toda a proposta de fundos discricionários (1,52 biliões de Dólares), e cerca de 40% de toda a despesa militar mundial, é superior à soma dos orçamentos militares dos 12 países que a seguir aos EUA têm maiores despesas militares, acrescenta milhares de milhões aos muitos que Trump já tinha destinado à máquina de guerra dos EUA e supera o maior Orçamento para a Defesa da Administração Reagan, durante o pico da chamada “guerra fria”.

No texto que sustenta a proposta de Orçamento a linguagem não deixa margem para dúvidas, afirmando-se textualmente a prioridade de enfrentar os “perigos” da China e da Rússia, objectivo aliás expresso noutros instrumentos como o pacote financeiro de 1,9 biliões de Dólares. O documento vai longe na explicação de como se pretende enfrentar esses “perigos” e “ameaças”: «modernização do armamento nuclear»; «Investimento em capacidades de fogo de longo alcance»; «Investimento na Frota da Marinha de Guerra norte-americana»; «recapitalização do programa de submarinos com misseis balísticos»; «resposta às ameaças biológicas emergentes» e «impulsionar a Iniciativa de Dissuasão do Pacífico». São estes alguns dos instrumentos que os EUA pretendem usar para lidar com a «ameaça da China», «o mais importante desafio do Departamento da Defesa» a par com o «comportamento desestabilizador da Rússia». A propaganda imperialista dirá exactamente o contrário, mas a verdade é que este é um Orçamento de Guerra e que o maior perigo que o Mundo enfrenta é exactamente a estratégia de confrontação e de corrida aos armamentos dos EUA.




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