Quem beneficia?
O Banco de Portugal pronunciou-se a semana passada sobre a dívida pública. Entre outros elementos, referiu que a divida pública atingiu em Fevereiro deste ano um novo recorde: 274,1 mil milhões de euros, ou seja, mais 18 mil milhões face ao período homólogo de 2020 (agravando-se em mais cerca de 50 milhões de euros por dia).
Para que melhor se perceba: a dívida que em final de 2019 era de 250 mil milhões de euros (116,5% do PIB), no final de 2020, passou para 270 mil milhões (133,6% do PIB).
Dirá o Governo que o crescimento da dívida no último ano se deveu à necessidade de medidas para fazer face à situação económica e social provocada pela epidemia. No entanto, como a maior parte das medidas – designadamente no Orçamento Suplementar - foi ditada não pela lógica da protecção dos interesses dos trabalhadores e das micro, pequenas e médias empresas, mas pela lógica das imposições da UE e dos interesses dos grandes grupos monopolistas que a movem, a primeira conclusão a tirar é simples: o crescimento da dívida pública tem servido sobretudo não para solucionar os problemas do povo português e do País mas para engordar os interesses do grande capital.
Por outro lado, como para pagar a dívida é preciso produzir, também não se percebe como é que, face à grave situação económico-social que estamos a viver, o Governo tenha tomado medidas que em vez de fortalecerem o aparelho produtivo contribuem para o seu enfraquecimento, de que é exemplo o encerramento da refinaria da GALP de Matosinhos e da central termoeléctrica em Sines.
Claro que este é o caminho que interessa ao grande capital: fazer a dívida crescer com incidência directa no aumento dos seus lucros, até um ponto sem retorno, que imolaria a própria soberania nacional no altar dos seus supremos interesses de classe.
Para salvaguardar os interesses do povo português o caminho é outro: aumentar a produção nacional e fazer crescer o PIB, sem esquecer a necessidade de uma renegociação da dívida (nos juros, prazos e montantes) articulada com a valorização do trabalho e dos trabalhadores.
Ou seja, concretizar uma política patriótica e de esquerda que garanta que a dívida se reduz e o País se desenvolve.