A espuma do preconceito

A candidatura de João Ferreira tem vindo a somar apoios ao longo dos últimos meses. Apoios de sectores diversos, de gente que tem acompanhado as candidaturas eleitorais em que o PCP tem participado nos últimos anos, mas também de outros quadrantes. Neste, como noutros planos, esta é a verdadeira candidatura de convergência de quem se revê inteiramente não apenas nos direitos, liberdades e garantias consagrados na constituição, mas também no projecto de desenvolvimento que esta comporta.

Isto tem sido visível na campanha, nomeadamente nas acções que têm contado com a participação do candidato que, depois de meses de ocultação, agora tem recebido atenção mediática. O que não tem impedido a invariável referência a «candidatura comunista», ao «candidato comunista» ou «apoiado pelo PCP». Sendo-o, e sendo esse apoio uma espécie de «selo de qualidade», como o próprio tem referido, esta insistência revela uma intenção de circunscrever a candidatura, memorizando o seu papel nesta batalha eleitoral.

Este pano de fundo leva-nos à iniciativa do jornal Público, Conversas Improváveis. Um modelo em que cada candidato faz uma conversa com um colunista do diário, com o propósito declarado de ir além da espuma dos dias. E foi isso que aconteceu na conversa entre João Ferreira e José Pacheco Pereira: o colunista foi tão além da espuma dos dias que conduziu a conversa sempre à procura das perguntas mais incómodas, mesmo que desajustadas à condição do seu interlocutor – candidato a Presidente da República. Mas quando (quase sempre) a resposta que recebia não encaixava nos seus próprios preconceitos, atropelava-a e dava, ele própria, a resposta que esperava ouvir. O Público poderá sempre argumentar que não pode nem deve controlar o que diz um seu colunista, o que é verdade. Mas, nas parelhas que decidiu formar, este estilo contrasta com outras das conversas improváveis, algo que seria fácil de adivinhar face aos nomes em causa, ainda mais fácil de adivinhar para a direcção editorial do jornal, que tão bem deve conhecer quem lá escreve.

Da mesma forma, a entrevista de Manuel Luís Goucha no seu programa na TVI foi mais um exemplo do recurso ao preconceito para atacar a candidatura. Sob a capa de entretenimento, o entrevistador recorreu a todos os truques do arsenal anticomunista para hostilizar quem tinha pela frente, num registo em que a opinião predominava sobre a isenção que, mesmo num espaço como aqueles, se exige a uma entrevista a um candidato a Presidente da República.

Estes exemplos são expressão de um incómodo instalado em quem dirige o poder mediático com o horizonte de esperança que esta candidatura traz: aquela que, de forma inteiramente consequente, assume a Constituição da República Portuguesa como programa de acção, seja na defesa e no exercício dos direitos, liberdades e garantias que esta consagra, seja nas linhas que aponta para um Portugal com futuro, mais justo e desenvolvido.




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