Ofensiva contra as liberdades
O papel dos grandes media tornou-se mais negativo no quadro da pandemia. Veja-se o guião seguido em qualquer noticiário: sistemática difusão de alarmismo, intimidação, desconfiança no «outro». E promoção da via securitária e repressiva de «combate ao vírus», agora por exemplo com a normalização do papel «sanitário» de forças policiais.
Todavia, e apesar do estado de extrema instrumentalização atingido, a classe dominante permanece visceralmente avessa ao direito à informação. Daí a obsessão com as fake news (as que lhe desagradam) e com a possibilidade de difusão mediática, seja da violência em que assenta, seja de outra realidade.
A NATO pronuncia-se: «actores, tanto estatais como não estatais, têm explorado a pandemia COVID-19 para difundir desinformação e propaganda, que visa minar e desestabilizar as sociedades ocidentais. […] O objectivo é criar uma mundividência alternativa delineada para minar os nossos valores democráticos.» Naturalmente que tal «desinformação» inclui desde a denúncia dos riscos decorrentes de manobras militares envolvendo muitos milhares de efectivos que a NATO não suspendeu até à pirataria de membros seus, roubando uns aos outros e a terceiros equipamentos sanitários e medicamentos.
Em França, a maioria parlamentar aprova uma lei «por uma segurança global» em que, entre outras coisas, se proíbe a difusão de imagens de violência policial. Como por exemplo a exercida contra os «coletes amarelos» que só em 2019 deixou milhares de feridos, 24 cegos, cinco com mãos desfeitas. A pandemia interrompeu essas grandes movimentações populares. Mas o governo Macron prepara a ocultação da violência quando elas forem retomadas, como inevitavelmente sucederá.
Quem julgar que tão descarada ofensiva contra as liberdades é alheia à campanha de intimidação e de instigação do medo à conta da pandemia, que se desengane.