Ofensiva contra as liberdades

Filipe Diniz

O papel dos grandes media tornou-se mais ne­ga­tivo no quadro da pan­demia. Veja-se o guião se­guido em qual­quer no­ti­ciário: sis­te­má­tica di­fusão de alar­mismo, in­ti­mi­dação, des­con­fi­ança no «outro». E pro­moção da via se­cu­ri­tária e re­pres­siva de «com­bate ao vírus», agora por exemplo com a nor­ma­li­zação do papel «sa­ni­tário» de forças po­li­ciais.

To­davia, e apesar do es­tado de ex­trema ins­tru­men­ta­li­zação atin­gido, a classe do­mi­nante per­ma­nece vis­ce­ral­mente avessa ao di­reito à in­for­mação. Daí a ob­sessão com as fake news (as que lhe de­sa­gradam) e com a pos­si­bi­li­dade de di­fusão me­diá­tica, seja da vi­o­lência em que as­senta, seja de outra re­a­li­dade.

A NATO pro­nuncia-se: «ac­tores, tanto es­ta­tais como não es­ta­tais, têm ex­plo­rado a pan­demia COVID-19 para di­fundir de­sin­for­mação e pro­pa­ganda, que visa minar e de­ses­ta­bi­lizar as so­ci­e­dades oci­den­tais. […] O ob­jec­tivo é criar uma mun­di­vi­dência al­ter­na­tiva de­li­neada para minar os nossos va­lores de­mo­crá­ticos.» Na­tu­ral­mente que tal «de­sin­for­mação» in­clui desde a de­núncia dos riscos de­cor­rentes de ma­no­bras mi­li­tares en­vol­vendo muitos mi­lhares de efec­tivos que a NATO não sus­pendeu até à pi­ra­taria de mem­bros seus, rou­bando uns aos ou­tros e a ter­ceiros equi­pa­mentos sa­ni­tá­rios e me­di­ca­mentos.

Em França, a mai­oria par­la­mentar aprova uma lei «por uma se­gu­rança global» em que, entre ou­tras coisas, se proíbe a di­fusão de ima­gens de vi­o­lência po­li­cial. Como por exemplo a exer­cida contra os «co­letes ama­relos» que só em 2019 deixou mi­lhares de fe­ridos, 24 cegos, cinco com mãos des­feitas. A pan­demia in­ter­rompeu essas grandes mo­vi­men­ta­ções po­pu­lares. Mas o go­verno Ma­cron pre­para a ocul­tação da vi­o­lência quando elas forem re­to­madas, como ine­vi­ta­vel­mente su­ce­derá.

Quem julgar que tão des­ca­rada ofen­siva contra as li­ber­dades é alheia à cam­panha de in­ti­mi­dação e de ins­ti­gação do medo à conta da pan­demia, que se de­sen­gane.




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