Cartomâncias e outras adivinhações
Pelo que aí se vai vendo, mais precisamente lendo ou ouvindo, o Congresso do PCP não consegue suscitar entre os que fazem do mexerico político ou da intriga pessoal padrão de análise, mais do que um exercício de adivinhações, de prognósticos, de palpites sobre o futuro deste ou daquele dirigente do partido.
Diga-se que na boa tradição dos charlatães e de lançadores de cartas o exercício tem sempre margem de sucesso garantida. Entre o «se sai ou se fica», «se entra ou se sai», «se sai a prazo ou se fica», «se fica para sair a prazo», há sempre garantida uma carta virada para cima a testemunhar a qualificada técnica do cartomante. Claro que a actividade de adivinhação transposta para a opinião política precisa de ingredientes adicionais sejam os da mera especulação, a da invocação indispensável de citadas «fontes» ou das mais elaboradas teorizações sobre os efeitos do COVID-19 nas soluções de direcção do PCP, como se pôde ver agora escrito por uma conhecida «pêcêpóloga».
Habituados ao mundo das intrigas, das facadas nas costas, da arregimentação de apoios para ambições pessoais, nas disputas entre candidatos a chefes desta ou daquela facção, tão comum na vida congressual de outros partidos, não enxergam mais do que isso. O valor do debate colectivo, a participação militante no debate partidário, a dimensão democrática, a contribuição de cada um com a sua opinião para a definição da orientação, são matéria irrelevante nesse mundo de superficialidade que os submerge. A situação do País, a análise à realidade económica e social, as soluções para responder aos problemas nacionais são cartas fora do baralho de quem faz da batota opinativa trunfo para obter vencimento das suas opiniões ou desejos.