Nós

João Frazão

Sob o título «Nós, Portugueses», deparámo-nos, no canal público de televisão, com um programa com o anunciado objectivo de problematizar o País que somos e para onde vamos.

Pelo meio de velhas atoardas, por exemplo, contra a redução do valor das propinas, ou de afirmações pouco rigorosas como haver hoje «desigualdades económicas menos acentuadas do que outrora», negando um percurso de agravamento dessas desigualdades pelo desequilíbrio na distribuição da riqueza, entre trabalho e capital, somos confrontados com o ataque gratuito aos comunistas e ao seu projecto.

Falando sobre a evolução do valor da igualdade, a narradora afirma a dado momento que «mais tarde, os comunistas acreditaram que seria a igualdade a resposta para todos os males e elevaram-na a valor absoluto, sacrificando a liberdade e o direito à diferença», para a seguir se questionar se «quereremos nós, mesmo, viver num mundo em que sejamos absolutamente iguais?».

Para lá da dúvida imediata sobre porque se fala assim dos comunistas sem se ouvir um deles, sequer, coloca-se a necessidade de reflectir sobre o sentido de tal afirmação.

Inquietam-se os autores do programa com o objetivo definido pelos comunistas de atingir uma sociedade onde sejamos todos iguais? Pelos vistos, sim.

Ignoram que, como dizia o cantor, só há liberdade a sério quando houver - para todos! - a paz, o pão, a educação, a saúde e a habitação? Tememos também que sim.

Quereriam vender-nos a teoria de que o direito à diferença é possível sem uma absoluta igualdade de oportunidades? Talvez tenhamos que responder que sim.

Nós, portugueses e comunistas, treinados na luta por todas as liberdades, sinceramente nos confessamos absolutamente empenhados na construção de um Mundo novo em que sejamos todos iguais. E orgulhamo-nos disso!

Não temendo caricaturas, queremos ser iguais em direitos e em oportunidades. E lutaremos contra aqueles que querem ter a liberdade para nos deixar ainda mais desiguais!




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