Um MC que não se enxerga

Filipe Diniz

O Ministério da Cultura encomendou a uma consultora britânica um Plano Estratégico do Instituto do Cinema e do Audiovisual. Apresentado (em inglês!) a 9 de Outubro, desencadeou um amplíssimo movimento de contestação e rejeição. Perante um sector em profunda crise o que o MC propõe é encher ainda mais os cofres de algumas multinacionais.

Haverá todavia mais a dizer sobre o significado político deste plano. Um recuo histórico até há 100 anos ajuda: entre 1918 e 1920 o mundo esteve a contas com outra pandemia, a da chamada gripe espanhola. Tal como agora, a principal forma de conter o contágio foi o confinamento. A actividade cultural – e em particular todo o universo do espectáculo – foi duramente atingida.

O grande capital aproveitou a situação. O processo é flagrante na produção e distribuição cinematográfica dos EUA. As grandes distribuidoras lançam-se à aquisição dos teatros populares de bairro, desalojando os pequenos produtores. Exibem em todo o lado as suas produções, marginalizando a pequena produção independente, monopolizando o acesso às audiências. Conseguem um salto qualitativo num processo de nivelamento e homogeneização que ainda hoje prossegue.

O que as grandes produtoras EUA fizeram no país há um século querem agora fazer em todo o lado as grandes plataformas de difusão digital EUA. Para esses monopólios, o confinamento e a atomização social não são uma tragédia – também cultural – são mais uma colossal oportunidade de lucro. Desde Março a Netflix aumentou em 10,1 milhões os seus subscritores.

O que um MC digno desse nome teria a fazer não seria abrir-lhes ainda mais a porta, seria defender a diversidade contra a homogeneização. Seria defender a pluralidade e a originalidade das linguagens que nos ligam, riqueza cultural sem preço, hoje ainda mais determinante do que alguma vez o foi.




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