Não desaponta, concerteza!
Numa das muitas aparições na comunicação social a que teve direito após assumir-se como candidata a Presidente da República, Ana Gomes afirmou que tem «muita gente à direita que se revê na [sua] candidatura, e [ela], naturalmente, não os quereria desapontar».
Esta afirmação, não sendo surpreendente, reclama dois ou três reparos.
O primeiro é o de que é natural que haja muita gente de direita que apoie Ana Gomes. O que seria contranatura seria que houvesse gente dessa que rejeitasse uma candidatura que faz, relativamente ao mandato do actual Presidente, um balanço positivo, não sendo capaz de lhe fazer outra crítica do que a que teria afectos a mais, ou que, como a própria candidata afirma, defende um instrumento de agressão e dominação que a própria CRP condena, como é o caso da NATO. Note-se que a CRP afirma que Portugal preconiza a dissolução de todos os blocos militares, ao passo que Ana Gomes defende o seu reforço.
O segundo é o de que a manifestação de vontade da candidata em não desapontar os seus possíveis eleitores não passa de retórica, uma vez que converge sempre com as suas ideias. Por exemplo, perante as questões sobre a pobreza nem uma vez só fala dos baixos salários ou, atrás do seu discurso justiceiro, continua a esconder o seu apoio de sempre às políticos nacionais e na UE que nos trouxeram às profundos desigualdades na distribuição na riqueza no nosso país.
O terceiro é que estamos seguros que esta preocupação da candidata encontra eco na sua acção e as suas opções de sempre. Não desapontará, por exemplo, em garantir, atrás da exigência de transparência, o seu apoio à entrega de importantes fatias do Serviço Nacional de Saúde ou da Escola Pública à gula dos interesses dos grupos económicos e às privatizações que servirão a direita que a apoie, mas que estão na origem da corrupção que é o objecto da sua intervenção pública.
Alguém que descanse Ana Gomes dizendo-lhe que, concerteza, não desapontará.