Coragem

Gustavo Carneiro

«Quem perde os bens, perde pouco. Quem perde a dig­ni­dade, perde muito. Quem perde a co­ragem, perde tudo.» Esta é uma ci­tação a que o Se­cre­tário-geral do PCP re­corre fre­quen­te­mente quando se re­fere à du­reza das ba­ta­lhas que sempre es­peram os co­mu­nistas e seus ali­ados, pois são eles pre­ci­sa­mente os que delas não fogem, sejam as cir­cuns­tân­cias as que forem. Ao fazê-lo re­fere-se à co­ragem fí­sica, sim, mas também à co­ragem po­lí­tica, ide­o­ló­gica e até moral.

De todas elas se fez e faz o per­curso de um sé­culo do PCP, tri­lhado quase in­te­gral­mente (Abril será curta ex­cepção) contra a cor­rente do pen­sa­mento do­mi­nante, que Marx e En­gels mostraram ser o da classe do­mi­nante e a vida con­firmou que, como tudo o resto, é pas­sível de ser trans­for­mado; e é a luta – co­lec­tiva, or­ga­ni­zada, con­se­quente, co­ra­josa – que trans­forma. Dos co­mu­nistas não se es­pera que ca­val­guem o senso comum, mas que travem a ba­talha das cons­ci­ên­cias, pro­cu­rando atrair cada vez mais gente em torno de ideias, con­cep­ções e pro­postas que ao início serão na­tu­ral­mente mi­no­ri­tá­rias. Até dei­xarem de o ser.

Em Março, quando a evo­lução do surto epi­dé­mico mo­ti­vava justas pre­o­cu­pa­ções e ile­gí­timos apro­vei­ta­mentos, foi pre­ciso co­ragem para en­frentar aqueles que pre­ten­diam trans­formar em de­sígnio na­ci­onal a de­cla­ração do es­tado de emer­gência (que de útil apenas trazia a sus­pensão dos di­reitos de greve e de re­sis­tência), com a sempre pronta ajuda das te­le­vi­sões, rá­dios, por­tais e jor­nais ao seu ser­viço. Hoje, é já claro para muitos que a epi­demia de COVID-19, cons­ti­tuindo um sério pro­blema de saúde pú­blica, serve também de pre­texto para in­ten­si­ficar a ex­plo­ração, cen­tra­lizar ainda mais a ri­queza e apro­fundar in­jus­tiças e de­si­gual­dades.

Essa mesma co­ragem não faltou para apoiar, pú­blica e fir­me­mente, as co­me­mo­ra­ções do 1.º de Maio, pro­mo­vidas pela CGTP-IN com ir­re­pre­en­sível res­pon­sa­bi­li­dade, mas ainda assim sob o fogo cer­rado dos media do­mi­nantes. A luta, porém, des­con­finou-se e não parou de crescer desde então.

Co­ragem foi também o que ti­veram de sobra mi­lhares de mi­li­tantes co­mu­nistas, que não dei­xaram os tra­ba­lha­dores e o povo en­tre­gues a si pró­prios e aos seus re­ceios. Ao con­trário de ou­tros, para o PCP o con­fi­na­mento po­lí­tico (vo­lun­tário ou im­posto) não é uma opção. Nunca foi.

O vi­o­lento ataque de que o PCP tem sido alvo nas úl­timas se­manas é o preço a pagar por esta co­ragem, a mesma que de­monstra ao re­a­lizar a Festa do Avante! como ex­pressão ímpar do di­reito à ale­gria, à cul­tura, à li­ber­dade (que se­gu­ra­mente ser­virá de mo­delo a ini­ci­a­tivas fu­turas) e a que terá de re­correr para os com­bates que aí estão. Que serão muitos. E duros.




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