EUA, nada de ilusões!
Democratas e Republicanos querem defender a hegemonia mundial do imperialismo
Há meses que a campanha eleitoral nos EUA ocupa um espaço descomunal na comunicação social. Como se o destino do mundo estivesse suspenso do resultado de 3 de Novembro. Como se todos fossemos obrigados a tomar partido numa gigantesca farsa que tem de tudo menos a «livre opção pluralista» e a «transparência» que o imperialismo norte-americano e os seus aliados defensores de sistemas «liberais» de «economia de mercado», estão a tentar impor pela força na Venezuela, na Nicarágua, na Bielorrússia, por toda a parte onde se afirmem processos de progresso e soberania.
Os trabalhos honestos acerca da podridão da «democracia americana» são raros. À generalidade dos repórteres e «politólogos» da comunicação social dominante pouco importa que sejam os grandes interesses económicos, as máfias, todo um sofisticado sistema de poder (Wall Street, complexo militar-industrial e Pentágono, CIA) a manipular a opinião pública. Pouco importa que o sistema eleitoral seja uma confusa construção para dar a ilusão de participação em algo já decidido pelos estados maiores do partido bicéfalo norte-americano, onde Republicanos e Democratas se revezam no governo para realizar a mesma política de classe.
Tentando personalizar em Trump o declínio da posição mundial dos EUA , é alimentada a ideia de que uma vitória de Biden (que ninguém dá como segura) representaria uma viragem positiva, o que não é nada certo, particularmente na política externa. Fruto do próprio aprofundamento da crise estrutural do capitalismo que o surto epidémico sublinhou e de sérios desaires no plano económico e da política externa, têm-se avolumado divergências na classe dirigente nomeadamente quanto ao modo de lidar com os aliados e de contrariar a tendência para o isolamento dos EUA. A verdade porém é que é muito amplo o consenso entre Democratas e Republicanos quanto à necessidade de defender e afirmar a hegemonia mundial do imperialismo norte-americano nomeadamente no que respeita à corrida aos armamentos, à política de ingerências e agressões como na Venezuela, na Palestina ou na Síria, à questão central da confrontação com a China. Reais diferenças de ordem táctica não alteram esta realidade fundamental ancorada na própria natureza do sistema. Compreende-se que no antidemocrático sistema eleitoral norte-americano para derrotar Trump e pôr termo a uma presidência instrumentalizada pelos sectores mais retrógrados, a única possibilidade é o voto em Biden. Mas é necessário que se não crie a ilusão de que tal represente uma mudança na política dos EUA favorável ao desarmamento, à paz, ao respeito pela Carta da ONU e da legalidade internacional que a administração norte-americana continua a atropelar com a maior desfaçatez e arrogância, como uma vez mais se viu no propósito anunciado por Pompeo de ignorar a sua flagrante derrota na ONU em relação às sanções ao Irão.
Ao contrário do que pretendem fazer-nos crer os colunistas encartados que, conscientemente ou não, se comportam em relação ao Tio Sam como «a voz do dono», só o combate dos trabalhadores norte-americanos contra o desemprego, o racismo e a extrema-direita, só a intensificação da luta dos povos de todo o mundo contra o imperialismo, pode levar o imperialismo norte-americano a encolher as garras.