Defender o SNS – o exemplo do Hospital dos Covões

Vladimiro Vale (Membro da Comissão Política)

Ficou claro, nestes meses de combate à COVID-19, que o Serviço Nacional de Saúde é a resposta. No entanto, temos vindo a denunciar a dimensão e agressividade do ataque por aqueles que querem fazer da saúde negócio.

O PCP combate a ofensiva em curso contra o SNS

São muitos os exemplos que demonstram a existência de um plano que passa pela diminuição da capacidade das estruturas públicas e favorecimento do aparecimento de unidades privadas de saúde, para depois aproveitar os atrasos e enfraquecimento do SNS para exigir a transferência de centenas de milhões de euros do orçamento do SNS para grupos privados.

Em 2011 foi criado o Centro Universitário de Coimbra, EPE (CHUC, EPE). O núcleo hospitalar de Coimbra, até então, era formado por três grupos hospitalares: Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) e Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra (CHPC), envolvendo oito hospitais, com âmbito regional e até nacional em algumas especialidades.

Esta fusão confirmou as razões pelas quais o PCP a combateu: sobrecarregou serviços, encerrou unidades de saúde, desmantelou valências, desestruturou equipas e foi acompanhada com a instalação de várias unidades hospitalares privadas na região.

A fusão avançou sem qualquer estudo técnico prévio ou auscultação dos seus profissionais e serviços envolvidos. E sem estudos técnicos foram sendo retirados do Hospital dos Covões, que abrangia cerca de 800 mil utentes, serviços tão nucleares como os de Gastrenterologia, Neurologia, Neurocirurgia, Urologia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia e outros, desarticulando equipas com grande experiência acumulada, desaproveitando a capacidade instalada.

A desvalorização deste hospital prosseguiu, em Abril de 2019, com a extinção do serviço de pneumologia e, em Maio de 2020, encerrou o serviço de Cardiologia, sendo que muitas das especialidades encerradas no Hospital dos Covões foram abrindo nas unidades hospitalares privadas.

Se, por um lado, o Hospital Geral dos Covões foi esvaziado, por outro, os HUC ficaram sobrecarregados. Filas na urgência, listas de espera insufladas, recurso a sucessivas soluções improvisadas para responder a esta sobrecarga, como sejam os contentores que vêm sendo instalados no seu perímetro

Já em 2020, o Hospital dos Covões foi designado hospital de referência para a COVID-19, com todas as valências (Urgência, Medicina Interna, Pneumologia, Reanimação, Cardiologia, TAC, RMN, Nefrologia, Hemodiálise, Laboratório). Este hospital revelou-se fundamental para o combate ao surto epidémico. As enfermarias desactivadas e camas fechadas foram reactivadas e mostraram-se essenciais.

Quem pensou que finalmente seria reconhecida a importância deste hospital rapidamente verificou que os planos de desvalorização continuam e aprofundam-se. Recentemente foi anunciada a intenção de desvalorização das urgências, o que demonstra que o que está em causa é o Hospital dos Covões em si mesmo e não apenas este ou aquele serviço ou valência, até porque um hospital sem urgências é um hospital fragilizado.

A salvaguarda do SNS passa pela luta exigindo meios e valências para o Hospital dos Covões, luta que profissionais e utentes têm levado a cabo em importantes acções que importa continuar e aprofundar.

Os profissionais e utentes podem contar com o PCP na luta pela reversão do processo de fusão dos Hospitais de Coimbra integrados no CHUC, mantendo os atuais serviços e valências e recuperando os existentes à data da fusão, incluindo um serviço de urgência no H. dos Covões digno de um hospital central, capaz de combater a sobrecarga de outras unidades hospitalares e dar resposta às necessidades da região centro e do País.

 



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