Diluindo promessas

Anabela Fino

Uma semana depois de ter rejeitado na Assembleia da República um projecto de lei para reduzir o número de alunos por turma que visava assegurar no ensino público as condições para que crianças e jovens voltem à escola com segurança, o CDS-PP, pela voz do seu líder, veio defender protocolos de cooperação com o ensino particular e cooperativo para evitar a «grandeconcentração de alunos por turma e por estabelecimento de ensino». Ou seja, Chicão, isto é, Francisco Santos, o tal que diz ter como ambição tornar o CDS num «partido sexy», quer para o privado o que recusa no público, falando mesmo numa rede de oferta de escolas que permitirá uma «distribuição e uma diluição (sic) dos alunos por vários estabelecimentos de ensino».

Confesso ter alguma dificuldade em perceber se o «sexy» da proposta está no cheque a endossar aos privados pela oferta de turmas ou na «diluição» dos alunos – a última vez que vi diluir significava dissolver –, mas deve ser problema meu. Seja como for, a escolha do vocábulo diluir faz-me temer que Chicão, apresentado ao mundo pela revista Forbes como uma «jovem promessa», esteja a precisar urgentemente de voltar à escola, ou no mínimo ao estudo do português. Seria uma excelente oportunidade para (re)ler a autora da frase de que se socorre para dizer que o que o Governo tem para oferecer às famílias e às escolas é «uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma». É que Irene Lisboa, para além de poeta e contista, foi pedagoga. Mal amada pelo fascismo devido às suas ideias revolucionárias para a educação, deixou um legado que vai muito para além da frase feita em que se tornou o título do seu livro para crianças e que, felizmente para nós, não se dilui com o tempo.




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