Surto epidémico agravou problemas do Ensino Superior
PORTO O desenvolvimento do surto epidémico de COVID-19 veio expor e agravar contradições, fragilidades e problemas já existentes no Ensino Superior, alertou a Comissão Regional do Porto da JCP.
Avaliação contínua está a ser liquidada
Em nota divulgada no dia 8 de Junho, a JCPafirma que a situação actual evidencia «os défices estruturais do Ensino Superior, decorrentes da incapacidade do Governo de responder às necessidades dos estudantes e do País, e do seu compromisso com a política de direita, com os ditames da União Europeia e do euro e com os interesses do grande capital», bem como a «necessidade de uma política alternativa que coloque o Ensino Superior ao serviço dos estudantes, do povo, do País e das forças produtivas».
Um dos problemas nas instituições do Ensino Superior do Porto, segundo a JCP, é o «funcionamento do ensino à distância em contexto do surto epidémico». «A adaptação ao modelo de ensino à distância tardou e não contemplou a totalidade das unidades curriculares. O corpo docente impreparado para esta realidade, teve, frequentemente, grandes dificuldades em acompanhar a transição», apontaram os jovens comunistas, lembrando que da «parte das próprias instituições verificaram-se limitações que resultaram em grandes assimetrias entre unidades orgânicas, cursos e turmas e numa multiplicidade de plataformas a serem usadas pelo mesmo estudante».
«Se o Governo já não valorizava a Acção Social Escolar e não olhava às discrepâncias sociais e económicas existentes entre estudantes, no momento que atravessamos demonstrou-se completamente incapaz de dar resposta às necessidades daqueles que não possuíam os meios necessários para ter aulas a partir de casa», afirmaram ainda, frisando que «do ponto de vista pedagógico» a «transição para um modelo de ensino à distância veio pôr em causa o acesso e qualidade do ensino, bem como a componente prática de inúmeros cursos, que foi substituída por instrumentos de avaliação que têm apenas em consideração o plano teórico ou elementos práticos insuficientes».
Muitas incertezas
As críticas estendem-se ao facto de a avaliação contínua, «a reboque do processo de Bolonha», estar a ser «liquidada, com a maioria das avaliações a serem reduzidas a um trabalho ou exame final», e à «incerteza» de muitos estudantes relativamente a prazos de entrega de trabalhos e dissertações» e à «compatibilidade dos mesmos com as candidaturas a mestrados e doutoramentos».
«Verificaram-se dificuldades no acesso a bibliografia em instituições como a FLUP ou a FDUP e métodos de avaliação anedóticos em instituições como a FBAUP ou a ESMAE», adianta a JCP.
Uma outra política
Para a JCP, «a luta por uma política alternativa, patriótica e de esquerda é cada vez mais actual e necessária, perfilando-se como a única capaz de responder aos grandes desafios que temos pela frente, que projecta no futuro de Portugal os valores de Abril, por um Ensino Superior sem barreiras económicas, com uma avaliação justa e contínua, democrático e de qualidade».
Propinas afastam alunos
«Se a propina era já a principal barreira ao acesso e frequência no Ensino Superior, num quadro de redução generalizada dos rendimentos dos trabalhadores e das famílias, e em que a qualidade pedagógica do ensino não é assegurada, ganha ainda mais força a necessidade de um Ensino Superior sem propinas, outras taxas e taxinhas», considera Comissão Regional do Porto da JCP.
Como exemplo, refere-se o grave défice do ponto de vista do alojamento estudantil, «com uma gritante falta de residências públicas e de quartos», e critica-se que «há boleia do surto, se procure reduzir o número de camas disponíveis e se empurrem estudantes deslocados para fora das residências».
«Se a propina era, aquando da sua criação, uma medida temporária, tememos que da mesma forma o ensino à distância, sob a capa da ameaça de uma segunda vaga e de uma suposta modernidade, se perpetue, pondo em causa o Ensino Superior público e de qualidade que conquistámos com Abril e por que tanto os estudantes lutaram», sublinham os jovens comunistas.
Preocupante é, simultaneamente, entre outros problemas, o «impedimento na entrada em faculdades para a realização de acções de contacto» e a necessidade urgente de obras em vários edifícios do Ensino Superior da região do Porto.