A palavra vale o que vale
«O que estou a dizer é que essa não será a nossa primeira opção».
A frase, dita assim, não quer dizer que se exclui a opção de que se fala, seja ela qual for. Pelo contrário, quase sempre é usada para justificar a sua utilização, mas parecendo que não era isso que se queria fazer.
A frase, dita por um governante (neste caso a ministra da Administração Pública) para responder à pergunta se «está a dizer que não vai haver cortes salariais?», aponta no caminho exactamente contrário, com a agravante de a ministra a ter completado com a declaração de que «se me pergunta: garante que vai haver um aumento de 1%? Não, não garanto».
Tal declaração, assim como o conjunto da entrevista que esta segunda-feira foi publicada num diário económico, é inaceitável e é bem reveladora do que são as opções do Governo.
Desde logo é inaceitável que o mesmo governo que ainda há poucos meses se comprometeu a aumentar os salários dos trabalhadores da Administração Publica, pelo menos, ao nível da inflação, venha agora dar o dito pelo não dito.
Inaceitável também porque é uma declaração feita quase ao mesmo tempo que as mais altas individualidades da nação andam a bater palmas aos novos heróis, dos profissionais de saúde aos trabalhadores dos resíduos urbanos. Homenagens sim, valorização das profissões e carreiras é que nem por isso.
Mas além do mais é um erro pelos sinais que dá, minando a confiança dos trabalhadores, num momento em que precisamos de estimular o mercado interno e atenuar dinâmicas recessivas, e pelo estímulo ao patronato dos sectores privados que assim têm a desculpa perfeita para tentar impor novos retrocessos.
Nós, que temos memória, não esquecemos o peso que teve no afundar da economia nacional o roubo nos salários e pensões no tempo da Troika, e ainda nos lembramos do tempo em que o primeiro-ninistro dizia que palavra dada era palavra honrada.