COVID-19

Confiança na luta por uma vida melhor!

João Dias Coelho (Membro da Comissão Política)

É certo que o surto epidémico provocou alterações profundas na vida de cada um e da sociedade de geral, mas se há realidade que ele evidenciou – para além da importância decisiva de termos um Serviço Nacional de Saúde ainda que atacado e subfinanciado pelos sucessivos governos da política de direita – foi o valor intrínseco do trabalho e dos trabalhadores.

O mundo, afinal, depende do trabalho

Lusa


A paralisação forçada de diversas actividades mostrou com toda a clareza que, sem o trabalho daqueles que produzem a riqueza e realizam a mais-valia, as diversas actividades económicas estagnam e a redução forçada de rendimentos dos trabalhadores e de outras camadas sociais tem um impacto circular na economia. Ou seja, se não se ganha não se consome, se não se consome não se produz.

Segundo estudos recentemente divulgados, cerca de um milhão de trabalhadores encontrava-se em lay-off, com a consequente redução dos seus rendimentos, sendo que «um quarto das pessoas de famílias que ganhavam até 650 euros perdeu todo o rendimento», enquanto que «nas categorias de rendimentos superiores a 2500 euros apenas 6% das pessoas perderam o seu rendimentoi.

Acresce, como vários estudos revelam, as situações em que «muitos trabalhadores são obrigados ao gozo antecipado «forçado» de férias, ao prolongamento dos horários de trabalho com o não pagamento das remunerações correspondentes o que, as vai prejudicar no sustento da sua família gerando situações de desespero e angústia»ii.

Esta realidade desmente a tese amplamente divulgada de que a COVID-19, atingindo-nos a todos, colocou-nos a todos no mesmo barco. Com efeito, há uns, os ricos e poderosos, que navegam em iates, têm boias de salvação robustas adquiridas através da exploração de quem produz a riqueza; e há outros, que estão no porão do barco, lutando para que ele não adorne. Outros ainda, e são muitos, dentro do mar agitado, procuram uma boia de salvação para as suas vidas destruídas pela perda do emprego e de rendimentos.

Hipocrisia de uns,
resistência de outros

O surto epidémico trouxe à tona da água a hipocrisia dos detentores do poder económico e financeiro, que, enaltecendo os trabalhadores que asseguram serviços públicos essenciais, a segurança das populações e a garantia do fornecimento de bens alimentares, mantêm os baixos salários, violando todos os dias os seus direitos. Mas, ao mesmo tempo, revelou o real papel dos trabalhadores, a sua importância, a sua a força e a sua enorme capacidade de resistência e confiança no futuro e, sobretudo, que o mundo afinal depende do trabalho.

Não, não vamos ficar todos bem, o terreno está a ser preparado em nome do interesse nacional para um novo salto do surto da exploração, com um rude golpe contra aqueles que produzem a riqueza do País e asseguram os serviços públicos – os trabalhadores, pois, como a vida comprova, no modo de produção capitalista, em fim de linha, só o grande capital (que vive da exploração de quem produz a riqueza) e os que gravitam à sua volta ficarão a salvo no barco.

Por isso, aos trabalhadores, a todos os que foram atingidos pelos PEC do PS e o Pacto de Agressão assinado com a troica estrangeira e executado por PSD e CDS, com o apoio do PS – que levou a que milhares perdessem o seu emprego e rendimentos e ao empobrecimento da maioria dos trabalhadores e do povo – e que não desistiram de lutar, só resta um caminho: prosseguir com confiança a luta contra o vírus da exploração e pelo direito a ter uma vida melhor.

E porque o futuro tem Partido, ontem, como hoje, os trabalhadores podem contar com o Partido Comunista Português.

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i Instituto Nacional de Estatística

ii ISC/ISCTE




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