Ovelha que berra
Como que em desmentido da proverbial expressão «ovelha que berra, bocado que perde», o Observador veio a terreiro protestar pelo magro quinhão no bodo dirigido ao grupos económicos da comunicação social. A berraria surtiu efeito e lá abocanhou mais umas dezenas de milhares de euros à maquia que o erário público lhes reservara. Percebe-se a indignação. Andam ali naquela casa a esforçar-se para fazerem juz ao papel de centro difusor de projectos reaccionários, a difundir o mais vernáculo anti-comunismo, a confundir jornalismo com insulto e destilação de ódio de classe, a assumirem-se como caneiro principal da sanha contra o PCP, a CGTP e tudo o mais que cheire a trabalhadores, e depois é o que se vê: tamanha desconsideração com tão fraca recompensa. Para já a coisa, ficou parcialmente remediada. A berraria no caso traduziu-se num naco mais. Donde, e porque a arte proverbial nasce da empírica verificação dos factos, anote-se a possibilidade de o supra ditado passar a ter como redacção alternativa «quem não berra, bocado perde». Se assim for, já o Observador poderá invocar que a sua passagem pelo terreiro mediático serviu para alguma coisa.
Abstraindo-nos de guerras alheias, da ciumeira face às parcelas distintas com que foram bafejados, tão mais injusta quanto cada um se esforça mais que o vizinho na cruzada reaccionária, registemos apenas o paradoxo que a situação revela.
Os mesmos que vociferam contra o Estado, ou porque é «gordo», ou porque deve ser «mínimo», ou porque deve «deixar o mercado funcionar» se perfilem agora de mão estendida a gozar de dinheiros públicos. Seja por via do embolsar de dinheiro fresco, seja à custa dos salários dos trabalhadores com o recurso escandaloso ao lay-off de alguns destes grupos económicos.