Não em nosso nome!
Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), nos ziguezagues que o caracterizam para manter a defesa da política de direita, foi esta semana um pedacinho além do chinelo. Não em termos literais, que aqui é uso falar de coisas sérias.
Apenas queremos sinalizar a indignação face ao inusitado apoio do mais alto magistrado da nação a um líder partidário, seja lá ele quem for.
Sentindo Rui Rio a naufragar na ausência de proposta – adormecido pela indisfarçável opção do Governo PS de apoio ao capital –, MRS leva-o, pela mão, a Ovar, para lhe tecer, a ele e ao presidente de Câmara seu correligionário, rasgados elogios.
Embalado, MRS agradece, em nome de todos os portugueses, a notável oposição que Rio tem feito e intitula-o «líder da oposição» e «candidato a primeiro ministro».
São três asneiras. O problema é que MRS sabe disso, mas decidiu dizê-las na mesma.
MRS sabe que Rio não é líder da oposição. Sabe que é líder do PSD e, mesmo assim, sem grande apoio. MRS quer transformar Rio naquilo que ele, manifestamente, não é.
MRS sabe que, no nosso país, não há candidatos a primeiro ministro, pela singela razão de que não há eleições para esse cargo. A vida, nas eleições de 2015, encarregou-se de esclarecer isso com mestria. MRS quer ver se esconde essa importante lição.
MRS diz que fala em nome de todos os portugueses. Sabe que não fala. Não fala em nome dos trabalhadores desempregados porque Rui Rio e o seu partido rejeitaram a proposta do PCP de proibir os despedimentos; dos que estão a perder uma parte do salário, porque Rio passa a mão pelo pêlo nas multinacionais que poderiam assumir a totalidade dos salários; ou dos que defendem o investimento no serviço nacional de saúde, que não se faz porque os seus comparsas de Rio decidiram entregar os milhares de milhões de euros que tanta falta fazem a esse objectivo, à banca e ao grande capital.
MRS disse três asneiras. Mas não em nosso nome.