Confinar a democracia?

Margarida Botelho (Membro da Comissão Política)

As liberdades democráticas atrapalham os que têm como objectivo explorar cada vez mais o trabalho e os trabalhadores. Direitos de intervenção sindical e política, de propaganda e de reunião, de expressão e de organização, são obstáculos que o capital não suporta e nunca desistiu de tentar erradicar.

O PCP intervém em defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo

Os últimos meses, além da emergência sanitária, trouxeram consigo uma bateria de ataques aos direitos dos trabalhadores e do povo. A tentativa do grande capital procurar transformar a situação – de saúde, política, ideológica, económica – em mais capacidade de explorar é evidente em todo o mundo.

O medo legítimo do vírus, do contágio e da doença está a ser utilizado pelo capital para potenciar o medo de sair de casa, de contactar com outros, dos desconhecidos, dos diferentes. Medo que tolhe a empatia, o raciocínio, a capacidade de reacção.

Isolados, amorfos, obedientes: sempre foi assim que o capital desejou ter os trabalhadores. Ganhar a batalha ideológica é indispensável para o aumento da exploração.

É por isso que para o capital e para quem o serve são intoleráveis o questionamento, a resistência, a demonstração das contradições e das injustiças. Não podem admitir que se prove que não tem que ser assim, que há alternativas, que o empobrecimento e a exploração não são fatais como o destino.

É por isso que o capital não perdoa a determinação de que a CGTP-IN deu provas nas acções do 1.º de Maio, e destila ódio de classe contra os sindicatos.

É por isso que o capital não perdoa ao PCP e procura isolar e limitar a sua acção. Não perdoa a coragem com que o Partido assumiu desde a primeira hora que não alinharia no discurso do «todos no mesmo barco» e que, pelo contrário, abriu uma linha pública de denúncia de problemas, apresentou soluções, defendeu e apoiou o Serviço Nacional de Saúde, as comemorações da Revolução de Abril e do 1.º de Maio, manteve uma activa intervenção política.

Há acusações ao PCP para todos os gostos e todos os públicos, mas podem arrumar-se em dois grandes grupos: por um lado, a acusação de irresponsabilidade ou desprezo pelos perigos para a saúde pública; por outro, a acusação de procurar criar uma situação de privilégio para os comunistas. Quem o diz sabe bem que são acusações falsas e injustas, que têm como propósito criar tal ruído e ambiente em torno do PCP que limite o número dos que ouvem, compreendem e reconhecem justeza às posições do Partido.

Intervir é resistir

O PCP não persiste nas suas propostas e iniciativas por teimosia, nem por braço de ferro, nem para auto-satisfação. O PCP intervém em defesa dos direitos e dos interesses dos trabalhadores e do povo português. Intervém em todo o território nacional, nas empresas e nos bairros, expondo e denunciando os problemas reais do povo e do País, construindo soluções e lutando por elas. O PCP aproveita todas as ferramentas que a ciência e a tecnologia puseram ao serviço da comunicação humana, mas privilegia o contacto directo e a conversa.

Fazer com que pareça que a intervenção do PCP é irresponsabilidade, capricho ou privilégio tem o objectivo pouco discreto de limitar a acção não só dos comunistas mas de todos os que não se conformam com a exploração e lutam por uma vida melhor. Dificilmente o reconhecerão, mas o objectivo não é só isolar o PCP. É condicionar todos os que lutam ou que pensem vir a lutar, é confinar e limitar a liberdade e a democracia.

Do documento à porta da empresa ao cartaz colado na rua, da iniciativa pública à reunião para preparar o Congresso, da conversa para a campanha nacional de fundos à venda do Avante! – mesmo as aparentemente mais singelas iniciativas do PCP são resistência, intervenção e luta. Pela liberdade, a democracia e o socialismo.




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