A suprema parvoíce

Margarida Botelho

«A supremacia do marxismo cultural» – assim se chama a mais recente pérola de Nuno Melo, no Público.

Queixa-se como é hábito de que «a esquerda» «colonizou» a escola, a cultura, a comunicação social. Há um lado cómico na forma como torce a realidade até encaixar na vitimização que quer construir: se em circunstâncias normais seria difícil encontrar exemplos da «supremacia» das ideias de «esquerda» na escola, na cultura ou na comunicação social, nos tempos que correm o exercício complica-se - pense-se nos rios de ódio publicados sobre o 1.º de Maio, para já não ir mais longe. A não ser que Nuno Melo se refira a princípios democráticos e constitucionais basilares, mas isso ficará para o próprio esclarecer.

A graça deste escrito é que Nuno Melo decidiu começá-lo citando Marx, na tese em que explica que as ideias dominantes de uma sociedade são sempre as da classe dominante. E são, como está bom de ver e entra cada vez mais pelos olhos dentro. A contradição é tão óbvia e risível que se lê o resto do texto na expectativa que Nuno Melo prove que a classe operária detém os meios de produção e tem o Estado ao seu serviço. Não prova, mas isso não limita o seu delírio. Que infelizmente não é só dele.




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