Não há recursos?

Manuel Rodrigues

O Governo transferiu recentemente mais 850 milhões de euros para o Novo Banco que se vêm juntar aos mais de 7 mil milhões que, através do Fundo de Resolução, já foram «enterrados» naquele banco por sucessivos Governos do PSD/CDS e PS ao longo de seis anos, desde a fraudulenta resolução decidida pelo Governo PSD/CDS de Passos Coelho/Paulo Portas (2014) até à ruinosa entrega a um grupo privado, com garantias dadas pelo Estado, executada pelo Governo do PS/António Costa, que se seguiu.

Ou seja, tudo somadinho, com esta nova transferência, o Novo Banco já arrecadou do erário público a «módica» importância de cerca de 8 mil milhões de euros e, apesar disso, fica nas mãos privadas da Lone Star, um fundo abutre que sacará o mais possível ao Estado português para depois vender o banco.

Não foi por falta de aviso. O PCP opôs-se à resolução do banco que foi também imposta pela UE cujo empenho na concentração bancária é conhecido, combateu as sucessivas injecções de dinheiros públicos, via Fundo de Resolução, denunciou os perigos da privatização do banco e exigiu, desde o primeiro minuto, que o investimento efectuado fosse dirigido para o controlo público do banco em concreto e do sector, colocando-o ao serviço do desenvolvimento do País.

É por estas e por outras que quando o Governo responde que não há recursos para o aumento dos salários, para o investimento nos serviços públicos e nomeadamente no SNS, para o apoio às artes e à cultura, para o apoio aos micro, pequenos e médios empresários, aos pequenos e médios agricultores e aos pescadores, é oportuno perguntar: «afinal, não há recursos para quem?»

E, conhecendo-se antecipadamente a resposta, o melhor é prevenir o futuro e dar apoio à posição do PCP pelo controlo público do Novo Banco, única forma de o colocar ao serviço da economia e do País. E mesmo assim já com pesados custos para o povo português. Mas, como o povo também diz, casa roubada, trancas à porta.




Mais artigos de: Opinião

O quê?

Centeno sai do Governo. Centeno fica no Governo. Centeno vai para o Banco de Portugal. Centeno não vai para o Banco de Portugal. Centeno de pedra e cal no Eurogrupo. Centeno de saída do Eurogrupo. Centeno em rota da colisão com Costa. Costa reitera confiança em Centeno. Centeno e o PR. Centeno e a Assembleia da...

Confinar a democracia?

As liberdades democráticas atrapalham os que têm como objectivo explorar cada vez mais o trabalho e os trabalhadores. Direitos de intervenção sindical e política, de propaganda e de reunião, de expressão e de organização, são obstáculos que o capital não suporta e nunca desistiu de tentar erradicar.

Nem novo, nem normal

De entre as expressões que, nas últimas semanas, ocuparam o «linguajar» oficial de tudo quanto é comentador encartado (em moderno seria o mainstream), e dão título a quase todos os órgãos de comunicação social – revelando que nada acontece por acaso e deixando apenas por saber onde se esconde o centro de difusão destes...

A suprema parvoíce

«A supremacia do marxismo cultural» – assim se chama a mais recente pérola de Nuno Melo, no Público. Queixa-se como é hábito de que «a esquerda» «colonizou» a escola, a cultura, a comunicação social. Há um lado cómico na forma como torce a realidade até encaixar na vitimização que quer construir: se em circunstâncias...

Mão invisível

A pandemia evidenciou que o capitalismo é hoje uma enorme sanguessuga que só sobrevive ligada ao ventilador. O principal comentador económico do Financial Times, Martin Wolf, escreve (29.4.20): «de novo, a aposta numa elevada alavancagem como via mágica para grandes lucros conduziu a lucros privados e resgates públicos....