Não é comemoração, é luta!

Paulo Raimundo (Membro do Secretariado)

Apesar das razões fortes para isso, a começar no seu 130.º aniversário, o que marca definitivamente o 1.º Maio deste ano não é a comemoração, mas sim a luta e a resistência.

Sem resistência e luta a situação dos trabalhadores estaria bem pior

Talvez seja isso mesmo que tenha desagradado tanto aos mercenários do sistema. Os mesmos que pediam palmas à janela para os médicos, enfermeiros, auxiliares, padeiros, forças de segurança, bombeiros, caixas de supermercado, repositores, pessoal da recolha do lixo e da limpeza, operários da construção civil e da indústria, agricultores, pescadores e tantos e tantos outros trabalhadores que fazem o País funcionar, são os mesmos que agora lhes atiram pedras.

Os mesmos que juraram fidelidade eterna aos por si denominados de ­heróis da linha da frente e a quem todos os dias agradeciam com ternurosos «obrigado», são os mesmos que agora os acusam de irresponsáveis. Os mesmos que recomendavam a todos para ficarem em casa são os mesmos a quem nada nunca lhes faltou, exactamente porque milhares, nas actuais condições, apanhando um transporte público atulhado e em falta, trabalham todos os dias, muitas vezes sabendo lá em que condições, com ou sem as máscaras, luvas, gel, distanciamentos, para que nada de essencial falte na casa de cada um.

Os que condenam a CGTP-IN são os mesmos que preferiam que a situação de mais de um milhão de trabalhadores em lay-off, com o consequente corte de um terço na sua remuneração, de milhares de novos desempregados e a ameaça a muitos mais, a brutal precariedade, os baixos salários, a imposição de férias forçadas, a desregulação dos horários de trabalho, os bancos de horas, a violação das mais elementares normas de segurança e higiene no trabalho, as pressões, a chantagem, a imposição do medo, nunca tivessem expressão e muito menos no 1.º de Maio – que desejaram que não se realizasse ou, havendo, que fosse limitado a actos simbólicos ou de expressão apenas nas redes socais por via de mensagens mais ou menos redondas.

Mas esses mesmos tiveram de se confrontar, em todo o País, nas condições actuais e indo para além do que as regras sanitárias impõem, com uma enorme capacidade de organização, determinação, confiança e, acima de tudo, tiveram de levar – e na rua – com a voz dos trabalhadores, dos seus problemas, anseios e direitos.

Presente e futuro

Foi de luta que se tratou, é de luta que se trata no presente e no futuro.

Os mesmos de sempre procuram desde já aplicar a mesma receita: atacar o movimento sindical de classe e o partido da classe operária e de todos os trabalhadores e abrir espaço para que os salários e os direitos dos trabalhadores e das populações sejam, mais uma vez, os financiadores dos custos económicos, agora da crise decorrente da epidemia de COVID-19.

O que lhes dói é o facto do seu espaço estar hoje mais limitado para a aplicação deste plano. O que lhes dói é que houve quem ousasse demonstrar, tal como ficou claro na jornada de luta do Dia do Trabalhador, a par de uma extraordinária capacidade de organização e realização, a determinação do movimento sindical e dos trabalhadores de resistir, mas também de avançar na conquista de direitos. Não tivesse sido essa resistência e luta em curso e a situação dos trabalhadores, a pretexto do combate ao surto epidémico e a reboque dos sucessivos decretos do estado de emergência, estaria bem pior.

A forma como os mercenários do sistema atacaram o 1.º Maio, para além de arrogante e de demonstrar falta de respeito pelos trabalhadores, também revela o desconforto pelo papel estruturante e decisivo que os trabalhadores assumem na sociedade, tal como a actual situação evidencia.

É de luta que se trata, para a qual os trabalhadores contam com o PCP, sem hesitações, calculismos, manobras ou receios.

Viva o 1.º de Maio!




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